Vamos queixar-nos menos quando está tudo bem. Quando a catástrofe ainda não chegou e quando os problemas com os quais lidamos, ainda que duros, têm uma solução. Vamos conseguir colocar mais vezes a vida em perspectiva, perceber que não podemos dizer que a nossa é tão complicada, só porque temos filhos saudáveis e felizes a correr pela casa e dar-nos muito que fazer. As rotinas cansam, preparar refeições diárias é chato, correr atrás deles dias inteiros deixa-nos de rastos, não dormir noites seguidas é lixado, não é fácil quando não querem comer, e até mesmo quando estão doentes, quando a febre chega, quando os vemos deitados no nosso colo, até mesmo aí devemos saber que está tudo bem, que estamos juntos.

A rotina pode ser boa. Pode trazer a calma. Os dias longos e mais difíceis são os que deixam mais saudades se o nosso mundo se vira ao contrário. Ontem passei o dia inteiro no hospital com eles. Cheguei a casa com dores no corpo e com a cabeça a mil. Pensei reclamar, queixar-me do que aconteceu, falar sobre o que tivemos que lhe fazer e que me estilhaçou o coração. Mas parei, porque no fundo, tudo o que desejo é que seja apenas isto, sempre. Desejo que a nossa vida seja esta, mesmo nos dias piores. Porque isto está longe de ser duro, porque isto até ofende os pais que realmente sabem o quanto sentem saudades da rotina, das doenças que se curam, dos choros pelas febres que vão passar. Ontem pensei nesses pais, nos que enfrentam a verdadeira provação e, desta vez, em vez de me queixar, só desejei que assim seja sempre. Mesmo que faça doer agora, não espero mais do que isto, dias bons, dias caóticos, dias com birras até mais não, dias em que tudo está espalhado pela casa, dias em que nada parece bater certo, dias em que o meu cabelo não se penteia, dias em que eles choram e estamos lá para dar colo e curar com beijinhos, porque quando sabemos que há luz no fundo do túnel…

porque quando os podemos adormecer à noite e senti-los ao nosso lado, aí podemos fechar os olhos e dormir, porque está tudo bem.