“Vais ter uma irmã, para brincar contigo.”

Tentámos sempre gerir as expectativas dele enquanto estava grávida. Ele ainda não tinha 2 anos quando lhe contámos, mas sempre deu sinais de perceber. Falava muito já e dizia a toda a gente que tinha uma mana na “baíga da mamã” uma “laulinha”. Toda a gente lhe dizia o mesmo. “Vais ter uma mana para brincar contigo”. E nós, com calma, lá íamos dizendo que no início os bebés não fazem grande coisa. Dormem, precisam de muito colo e maminha, e que a coisa mais emocionante seria fazer cocó. Mas, de uma forma ou de outra, a ideia de ter alguém com quem brincar foi-se implantando na cabeça dele.

A quase 2 meses da Laura nascer. Gui 28 meses

Quando ela nasceu, ele tinha 2 anos e 6 meses, completos no dia seguinte. Assim que entrou no quarto do hospital, menos de 2 horas depois de ela ter nascido, disse-nos logo “põe a mana no chão para brincar comigo”.

Quando se viram pela primeira vez

Assim que percebeu que ela não ia sequer abrir os olhos, agarrou nos avós e pediu para ir embora brincar para a rua. Com o tempo, foi percebendo que ela era mesmo só uma bebé muito pequenina. Queria sempre que a deitássemos no chão do quarto de brincar e ficou frustrado algumas vezes quando eu não podia brincar com ele por ela estar a mamar ou ao colo a dormir. Fomos gerindo tudo isto da melhor forma que soubemos, e acho que tem corrido mesmo bem.

Agora sim. Hoje brincam juntos o tempo todo. Ele reaprendeu a brincar a dois, a estabelecer os limites, a partilhar, a perceber que ela ainda não percebe tudo. Eles falam um com o outro, ouvem-se muitos “não” e “pára”, às vezes choram, às vezes vêm ter connosco com acusações, até ela já sabe vir queixar-se e dizer que foi o mano. Mas brincam. Estão lá os dois juntos, ela copia-o, senta-se onde ele está, faz sons de dinossauros e trepa a todo o lado. Ficam eufóricos. Puxam um pelo o outro. Eles são diferentes. Ele nunca brincou sem nós, ela fica muito tempo a brincar sozinha. Mas agora têm-se sempre um ao outro.

Não sei a fórmula secreta, mas acho que ajuda muito se os deixarmos sempre fazer parte de tudo, a ambos. Quando ele não compreendia porque é que de repente não era só ele, eu explicava sempre que a mana era nossa, que era da nossa casa para sempre, que veio para a nossa família, que era a irmã dele, que ele tinha o papel mais importante e que ela gostava mesmo dele. Nunca, durante estes 20 meses, ele disse que não queria ter uma irmã. Nunca a afastou. Nunca nos pediu para estar sozinho connosco. Deu alguns sinais de ciúmes, especialmente na presença de outras pessoas como os avós ou os amigos próximos, e ainda hoje gosta que também reparem nele quando alguém dá atenção à Laura. Mas nunca notei que ele achasse que perdeu o espaço dele, porque esse ficou sempre garantido. Nunca lhe disse que teria que partilhar, ele sabe que em casa é tudo de todos. Nunca lhe disse que teria que gostar da irmã, porque esse amor surgiu naturalmente e cresce a cada dia.

Acho que até teria medo de ter mais um filho, com receio que não fosse tão fácil e genuinamente bonito como é com eles.

Uma mana para brincar contigo, amor. Nunca estão sozinhos agora.

Foto tirada hoje.