Vão dormir juntos até ao dia em que um de vocês diga que não quer. Nesse dia, vou ter que ser forte, não deixar que me vejam chorar. Ver-vos crescer é tão assustador! Não consigo compreender como é que o mundo tem tanta pressa! Estamos sempre a ouvir que “já são tão crescidos”, e dão-vos uma série de responsabilidades. Eu só consigo pensar no quão rápido tudo passa.

Hoje dormem juntos. As vossas mãos pequeninas, os pés tão suaves por baixo, como se ainda mal tivessem caminhado no mundo. As vossas bocas minúsculas e iguais. Enquanto dormem, a vossa respiração sincroniza, o vosso olhar é doce e sereno. E eu, enquanto vos olho, sinto que levo uma injeção de vida, de paz. O meu coração dói por imaginar que hoje é menos uma sesta vossa que eu vejo. Um dia, não sei quando, será a última. É tudo assim. Um dia, sem sabermos, é a última vez que algo acontece. Poderá não ser apenas por motivos tristes, poderá ser apenas a vida a decorrer, o tempo a avançar, a idade que chega, um patamar que se atinge, uma casa que fica para trás, umas férias que terminam, uma palavra que passa a ser bem pronunciada, um beijo cheio de baba. Um dia, é a última vez.

Por instantes, enquanto dormem felizes ao meu lado, tenho a ingénua sensação de que tenho todo o tempo do mundo. Parece que é apenas mais uma sesta. Às vezes aproveito para despachar tarefas enquanto vocês dormem. Mas hoje não, hoje parei para vos ver dormir. O tempo todo.

Porque um dia, será a última vez. Um dia, vocês não serão assim pequeninos, enrolados um no outro. Um dia, apenas terei estas fotografias para me lembrar. Mas hoje, eu estou aqui, a ouvir a vossa respiração, a decorar-vos os traços.

Um dia, um de vocês vai acordar e dizer quer não quer mais. E eu, vou tentar que não me vejam chorar.