Eu sei que devia escrever sobre o quão aborrecido e difícil é aturar os meus filhos o dia inteiro. Esqueci-me de partilhar aquelas frases batidas, que se vêem pelas redes sociais todos os anos, a aplaudir o final do verão e o tão desejado regresso às aulas. Eu sou daquela geração velhinha de blogs que ainda não aderiu à moda das bocas, do olhar de seca, do sarcasmo usado para destilar veneno sobre outras mães, ou outros blogs. Não consigo partilhar nada que talvez queiram ler. Aqui sofre-se com o início de mais um ano, depois de 2 meses e meio em casa com os dois. Aqui fica-se com ele em casa “só mais hoje”, para tentar compensar a falta que um deles me faz. Aqui há um sentimento de saudades de tudo o que vivemos, pode ter sido apenas hoje de manhã, mas eu já tenho saudades do riso dela quando viu um bando de gaivotas, ou de quando ele me atirou ao chão com um abraço. Nunca os soube tão de cor, a cada dia que passa conheço-os melhor. Todas as palavras, frases que dizem. Os cheiros. O corpo deles com areia colada. A respiração enquanto dormem. O que gostam, o que não querem, os hábitos, o que os faz mais felizes. E eu gosto disto, de verdade. Gosto de ser eu quem sabe tudo o que fizeram ao longo do dia. Gosto de poder assistir a tudo na primeira fila. Sou das que sabe que daqui a 2 anos tudo muda, começa a escola de verdade e acaba-se o direito a impulsos como o de hoje. Acabam-se os dias em casa só porque sim. As idas à praia já no outono. São 5 ou 6 anos da vida deles em que tudo passa por nós, depois eles crescem, ganham asas, conhecem o mundo, e começamos a conhecê-los um bocadinho menos, porque foi assim comigo, é assim com todos. Eu sou das que se comove na fila da caixa do hipermercado porque enquanto enchia a Laura de beijos e ela me pediu colo, uma senhora já bem velhinha me diz para aproveitar muito, porque vou ter tantas saudades.

Eu também gosto de viajar, de jantar com amigos, de ir ao cinema a dois, de não ter preocupações. Eu imagino o quão bom devem ser umas férias longe de tudo, sem horários, com tempo para namorar. Mas sou das que acha que esse tempo ainda vem e que este já não volta. Não sou melhor nem pior, não sou das que acha que isto define o amor que sentimos por eles, sou apenas mais feliz assim. E quando estamos felizes, eu acredito verdadeiramente que eles sentem e isso muda tudo. Para melhor.