Longe vão os tempos em que o fim-de-semana trazia descanso, jantares românticos ou mesas cheias de amigos, passeios calmos e maratonas de filmes. Depois de termos filhos, quando vemos a sexta-feira aproximar-se, começamos a ter pensamentos e sensações contraditórios! Por um lado, vamos estar finalmente todos juntos em família e há alguma coisa melhor no mundo do que isso? Por outro, sabemos que, por muito bom e maravilhoso que seja (que é!!) vamos chegar a domingo de rastos! Penso muitas vezes que somos apenas nós que não damos conta do recado. 

Podia estar aqui a deixar-vos um texto lindo, sobre o quanto é tão bom acordar com os dois filhos na nossa cama, comer panquecas em pijama, sair cedo para a rua e só regressar no final da tarde. Podia descrever-vos o quanto sabe bem aproveitar o dia, viver tudo intensamente, andar de bicicleta, correr com a bola, ouvir muitas gargalhadas, ver uma cara cheia de gelado, derreter-me ao ver a minha bebé na relva enquanto se ri à gargalhada. Podia escrever sobre almoços tardios, pizza no sofá a ver um filme, corridas na areia, passeios à beira ria. Muitas descidas de escorregas e voos altos em baloiços. Banhos longos e de espuma. Podia falar do sol e calor e deste cheiro a mar incrível. Sim. O nosso fim-de-semana teve tudo isso. Gargalhadas sonoras. Roupa suja de relva. Pernas gorduchas a apanhar sol pela primeira vez na vida. Teve momentos perfeitos, que queremos decorar e reviver vezes sem fim.

Mas não foi só. O fim-de-semana trouxe muito mais. Trouxe também muitas correrias para todas as direções e uma casa que ficou à espera enquanto vivíamos o fim-de-semana e que a segunda-feira nos mostrou repentinamente ainda mais desarrumada e caótica do que eu me recordava. Trouxe demasiados “faz isso, por favor” ou “já chega”, ou “por favor, pára um bocadinho” que ficam perdidos entre a euforia de uma criança de 3 anos. Trouxe duas noites enormes, quase sem dormir com manhãs que começam sempre cedo demais. Trouxe dores de cabeça que tentamos esquecer. Trouxe a vontade de ficar só mais um minuto naquela maravilhosa esplanada com vista para a ria. Trouxe braços cansados de tanto colo e mochilas e tralhas que não acabam. Trouxe muito calor de tantas corridas atrás da bola e da bicicleta com bebés no sling e no pano. Trouxe muitos “só mais uma vez, mamã” que duram infinitamente mais do que gostaríamos. Trouxe refeições barulhentas e interrompidas com perguntas de um e pedidos de mama da outra. Trouxe um sofá que ficou vazio quando a casa já está em silêncio, porque adormecemos sempre com eles de tão exaustos que estamos. Passa o fim-de-semana e para trás ficam os planos de preparar refeições ou fazer algumas compras. Para trás fica aquele filme que pensámos ver enroscados no sofá. Para trás ficam as conversas calmas que tantas saudades fazem. Para trás fica o descanso tão desejado. 

Ontem, no final da noite, já dormiam todos cá em casa, e eu estava acordada. Notei que tenho dores no corpo todo, como naqueles dias longínquos de idas ao ginásio. Estou cansada, extremamente cansada. Percebi que sou movida a felicidade. Sou movida a sorrisos. Sou movida a beijos babados e abraços apertados. Percebi que são vocês que me fazem ter forças. É por vocês que eu vivo. Estou exausta, mas tem valido a pena. Pelo menos, é o que o vosso olhar sempre tão feliz me diz. 

Agora respiro fundo e recomeço, aí vem mais uma semana. E eu a sonhar já com a sexta-feira…