Quando fores para a escola, não tenho medo de te perder. Não tenho medo de te lançar um bocadinho mais ao mundo. Não tenho medo de te deixar ir e ver-te crescer. Quando fores para a escola, não me assusta a distância, porque sei que estaremos preparadas. Não me preocupa a minha dor, porque só importam vocês.

Quando fores para a escola, o que me mete medo é que te retirem isto. A liberdade de seres quem és de verdade. Tenho medo que te sentem em fila, igual a todos os outros, quando nenhum de vocês será igual. Tenho medo que te façam ver ver vida apenas nas cores certas, em vez de te deixarem ver um gigante arco-íris. Tenho medo de um dia te ver chegar a casa sem cor, sem roupas sujas, sem imaginação, sem confiança em ti. Quando fores para a escola, tenho medo que passes a ser só mais uma, só um número. Tenho medo do dia em que te vão avaliar em parâmetros que talvez não sejam os que te definem. Tenho medo que te cortem as asas, aquelas que hoje te fazem voar tão alto e que me levam junto, porque as minhas eu já as perdi, como quase todos nós. Sem asas, serás só mais uma sentada numa cadeira a ouvir. E eu, eu gosto que voes bem alto e que a tua cabeça te leve onde tu desejas ir.

Tenho-te ao meu lado, não apenas porque acho que é o melhor lugar do mundo para estares, mas porque aqui podes ser livre. Podes levar o teu tempo a encontrar o que procuras, podes ser tu, sem medidas, avaliações ou metas. Aqui não fazemos trabalhos para pendurar nas paredes em que pego na tua mão e a deixo bem marcada numa folha, com tintas que limpo de imediato para que não sujes a tua roupa. Aqui tu podes pegar no pincel, podes cobrir-te de tinta. Não me preocupam os móveis, o chão ou as roupas. Nada disso me pertence, nem sentirei nunca falta de uma casa limpa, sem riscos nas paredes. Sentirei falta de te ver sorrir, ser feliz, explorar, provar, testar, deduzir, aprender por ti mesma.

Tenho medo que um dia te roubem essa forma livre de ser. Não me custa separar-me de ti, custa-me apenas pensar que talvez um dia sejas só mais uma, a seguir todos os outros, e que se perca o ser único que eu sei que és. Porque todos somos. Mas poucos somos os que descobrimos verdadeiramente quem poderíamos ter sido.