Estou em casa com a Laura. Ela ainda não tem 3 meses, mas o tempo em casa é uma mistura entre “caramba, o tempo voa e esta miúda já cresceu tanto” e “os dias não passam, o tempo parou”. Quem mais espera de uma mãe, são as próprias mães. Talvez porque sabemos que a sociedade nos julga tanto, mas acima de tudo porque nos julgamos a nós mesmas.

Hoje não fiz nada. É uma das frases que mais tenho dito. Mas fiz. Fiz tudo. Amamentei a Laura a noite inteira. Ela agora não dorme no berço, quer dormir comigo, quer mamar mais. Por isso eu durmo menos, canso-me mais, fico mais frágil. Acordo com a Laura no meu braço esquerdo, o pijama ainda subido para cima, o pescoço torto e com o Gui do lado direito, de mão dada. O pai a tomar banho e eu nem dei conta da chegada do Gui. Ela desperta e mama mais, ele quer a minha atenção. Sou disputada pelos dois e quero dividir-me em duas. Visto o Gui. O pai prepara o pequeno-almoço. Tenho sempre tanta fome de manhã, de noite tenho demasiado sono para ir comer. Mudo a fralda da Laura. Preparo o Gui. Brincamos na sala aos piratas. Ele diz que não quer ir embora. Quer que seja eu a levá-lo. Eu estou de pijama, não posso ir. A Laura começa a choramingar porque quer mamar. Quero dividir-me em duas mães novamente. Ele vai embora com um beijo roubado. A Laura mama. Adormece ao colo. Penso que talvez fique a dormir só um bocadinho na alcofa. Não fica. Vou à casa de banho a correr e ela chama-me. Namoramos um bocadinho e aqueles sorrisos valem tudo. Quer mamar para adormecer, adormece ao colo, deixo-a estar. Vejo um episódio de uma série e olho para tudo a minha volta por arrumar. Consigo levá-la comigo para arrumar o quarto. Mudo a fralda e consigo vesti-la. Brincamos um bocadinho, mostro-lhe as molduras na parede, dançamos uma música, ela sorri. Mudo a fralda e mudo a roupa que sujou toda, mais uma para lavar à mão. Mama novamente, consigo deita-lá mas ela desperta, fica sem chorar e eu corro para a cozinha, como a sopa em pé enquanto aqueço o resto da comida. Trago para a sala e sento-me no ângulo de visão dela, vou comendo e conversando. Às vezes almoço em pé, às vezes almoço com ela ao colo, às vezes ela dorme. Hoje nem banho tomo. Às vezes levo-a comigo e ela fica a ver-me tomar um duche rápido enquanto canto para ela. Às vezes visto-me e vamos passear. Às vezes ela não precisa tanto de mim. Mas hoje não me visto. Hoje ela quer-me mais, precisa-me mais. E eu fico mais cansada, fico mais frágil. Ela quer mamar novamente. Coloco-a no sling. Arrumo a cozinha, faço a cama do Gui. Passo alguma roupa a ferro. Sento-me e deixo-a dormir. Começo a ver as horas e vejo que não fiz nada. Tiro-a do sling, ela acorda, mudo a fralda. Ela quer mamar. Preparo um iogurte com cereais e como com ela ao colo. Deito-a nas minhas pernas e conversamos. Aquele sorriso novamente. Tem sono e quer colo. Passeamos pela casa com mama pelo meio. O Gui chega, corre para o meu colo e eu digo que tive saudades dele, ele sorri. Diz que quer brincar comigo. Quero dividir-me em duas mães. Tento brincar com ele e a Laura no pano, nem todas as brincadeiras são possíveis. O pai faz o jantar. Sinto que podia ter sido eu a fazer, mas eu não consigo. Damos um banho a Laura. O pai segura nela e lava-lhe o cabelo. Eu tento estar com o Gui que está interessado em brincar com a água no bidé. Depois banho ao Gui. Brinco com dinossauros, fazemos mergulhos. Respondo a muitos “porquês” e “e depois?”. A Laura começa a resmungar no colo do pai. Quer mamar. Janto com ela a mamar, assim poupo tempo. O Gui hoje até janta bem,  depois a pêra tem piada no chão. Limpamos a cozinha. Mudo a fralda da Laura. Mais um body para lavar à mão! Preparo a Laura para dormir. O Gui brinca com o pai. Dou de mamar até ela dormir, às vezes 15min, às vezes 1 hora. Às vezes ainda consigo adormecer o Gui e o pai deita a Laura. Às vezes adormeço o Gui e ouço a Laura chorar e quero novamente dividir-me em duas mães.

Ser mãe pela segunda vez dá-nos a vantagem de sabermos que não é assim sempre, nem para sempre. Faz-nos saber que tudo isto passa tão rápido que vale a pena aproveitar cada instante, mesmo os mais duros.

Os dias não são todos iguais, uns mais fáceis que outros. Às vezes sentimos que não fizemos nada. Mas nunca deixem que vos digam isso. Fizemos tudo. Somos mães. Mães a tempo inteiro, mesmo as mães que trabalham, são sempre mães o tempo todo, porque podemos fazer mil coisas em paralelo, mas estamos sempre a ser a mãe, a pessoa que eles mais procuram, mais precisam, mais chamam.

Quando vos perguntarem o que fizeram o dia todo em casa? Respondam a verdade.

Estive a ser mãe!