Filho, o mundo onde vivemos, não é um lugar assim tão mágico e especial como eu te costumo dizer. Desculpa ter-te mentido tantas vezes. Digo-te sempre que podes ser quem tu quiseres. Que podes voar bem alto. Que o mundo é enorme e cheio de pessoas e lugares bonitos. Tudo isto é verdade. Mas há mais. Muito mais. Quero falar-te das coisas menos boas, mas lembro-me que só vais fazer 4 anos. Mereces acreditar na bondade dos outros. Custa-me saber que um dia vais conhecer a maldade. Vais perceber que os adultos não cumprem as promessas todas. Que a inocência das crianças se perde. Que essa generosidade sem fim, não existe assim em tantas pessoas crescidas. Um dia vais compreender que os adultos estragam quase tudo. Que interferem. Que invejam. Que cobiçam. Que criticam. Que procuram tantas vezes deitar alguém abaixo, só para que isso os torne em algo mais.

Tu queres tanto crescer, mas crescer, às vezes, é uma seca.

Seria tão mais fácil viver num mundo em que os adultos pensassem um bocadinho como as crianças. Agissem genuinamente. Não soubessem sorrir por conveniência. Não fizessem fretes pela aparência. Não se magoassem gratuitamente.

Mas não funciona assim, filho. Não sei o que vais ser no futuro. Todos os dias te encho de amor, na esperança que seja o amor a mover-te sempre. Todos os dias te faço acreditar em ti, tentando convencer-te que podes ser quem tu quiseres. Sei a importância destes anos na tua vida e tento que sejam a base para que consigas passar pelo mundo de cabeça erguida, sem nunca esquecer de olhar à tua volta.

Vais completar 4 anos. O meu colo já não chega para te proteger de tudo. Já dizes que alguém disse que a tua camisola era feia e pedes para não vestir, já sentes na pele que os outros te observam e isso começa, lentamente, a inibir-te. Só posso continuar a assegurar que, pare nós, serás sempre livre e que o amor aqui não vem condicionado, não depende do que fazes ou do que vais ser, é amor, só isso.

Vais completar 4 anos. Nós vamos continuar com o nosso papel para que não sejas cruel com o mundo. E eu só peço que o mundo não seja cruel contigo.

“Querias ter 4 anos, mãe?”

Sim, queria muito.