Estás a dormir há mais de 2 horas deitado no meu peito e só acordas por breves segundos para tossir ou para mudar de posição. Gostava que o meu colo te deixasse mais confortável e te diminuísse as dores. É o melhor colo do mundo, esse colo de mãe, mas neste momento não chega. Gostava que os meus beijos tivessem de facto super poderes como te costumo dizer quando cais e corres para mim, mas não têm. Não posso sair e deixar-te porque acordas a chamar por mim, por isso só posso ficar aqui a divagar nos meus pensamentos. Penso como podes passar com tanta rapidez de uma criança tão sorridente e feliz, para um bebé de olhar demasiado triste e frágil. Não é suposto vermos este olhar numa criança, ver os teus lábios num semicírculo que deveria estar ao contrário, ver os teus olhos enormes semicerrados, não é suposto responderes “não” quando te pergunto se queres brincar comigo ou se queres ir à rua ver os patos. Ontem estiveste 4h deitado, e a cada minuto que passava, eu perdia mais uma parte do meu coração. Perguntei-te se querias sair dali, se querias colo, se querias a mãe, se querias ver televisão ou brincar. A todas as minhas perguntas respondeste não, um não entre lágrimas. No final eu perguntei “o que queres então, amor?” e a tua resposta foi “nada”. Foi essa a palavra que saiu da tua boca, com todas as letras. Como “nada”? Como podes não querer nada? Pensei quando é que aprendeste essa palavra, não posso ter sido eu a ensinar-te. Um bebé de 21 meses não pode saber responder “nada”. Tu estás na idade de querer tudo meu amor, de querer ver os pássaros no céu, os camiões a passar e a lua a chegar. Estás na idade de querer correr, saltar, descer escorregas e chutar em bolas. Estás na idade de ser sôfrego por vida, de querer tudo a que tens direito, de querer o mundo se for preciso. Mas tu respondes “nada” e fechas os olhos, tens lágrimas na cara que parece que estão ali há tempo a mais. Se o coração de mãe for como eu o imagino, um sítio iluminado, cheio de diferentes luzes, um lugar activo, que está a piscar sempre que um filho anda por perto, se for assim, eu imaginei o meu a apagar algumas dessas luzes, como se parte do meu coração ficasse às escuras, em silêncio.

Estou a pedir que seja apenas uma gripe, como todos me dizem. Por favor, volta a ficar bom, a sorrir, a correr. Tudo o que mais desejo é que nunca mais me respondas “nada”. Porque a mãe por ti amor, faz tudo.