Texto escrito em 2015

Estava a terminar este texto quando uma leitora escreveu um comentário em que confessa que dorme com a sua pequenina princesa de 3 meses. Começa por justificar que foi uma gravidez muito desejada e que se trata de uma bebé muito amada. Acrescentou que dormir com a sua pequena a faz feliz, a deixa segura…mas, e há sempre um mas.

A chegada de um bebé altera por completo a vida de qualquer casal, acho que nisto estamos todos de acordo. O momento crítico costuma ser a chegada a casa, aquele momento em que nos deparamos sozinhos com o nosso recém-nascido. Ao longo da gravidez fomos desenvolvendo ideias sobre o que queremos para o nosso filho, como vamos ser como pais, preparamos a casa para o receber, compramos aquilo que achamos necessário ou que alguém nos disse que devíamos comprar. Hoje em dia as opções são milhares: berços, chupetas, biberões, bonecos que prometem acalmar o bebé, móbiles espectaculares que projectam estrelas pelo tecto do quarto…somos até capazes de comprar cds com músicas que supostamente ajudam o bebé a relaxar…lemos alguns livros, escutamos alguns amigos que já parecem perceber mais do assunto e esperamos que tudo corra pelo melhor quando estivermos frente a frente com o nosso bebé.

Nem sempre aquilo que imaginamos corresponde. Afinal o nosso bebé não se acalma no berço, parece não ligar à música, parece que afinal não estamos assim tão aptos a sossegar o nosso filho. Surgem os medos, as dúvidas e a CULPA.

Atrevo-me a dizer que qualquer mãe sente culpa. Seja qual for o motivo. Culpa de não conseguir, culpa por não saber o que fazer. Culpa na amamentação. Culpa por tudo e por nada.
As pessoas começam a visitar-nos e todas elas parecem ter algo a opinar.

“cuidado com o colo”
“estás a habituá-lo mal”
“qualquer dia não fazes nada porque ele não te deixa”
“tens que o deixar dormir sozinho”
“tens que o meter na cama dele”
“tens que lhe dar um biberão porque tem fome”
“não podes deixá-lo mamar tantas vezes”
“olha que parece fome”
“tem calor, tem frio”

e por aí fora. Começamos a temer. Começamos a pensar “será que o vou habituar mal se estiver aqui com ele ao colo?”

Eu diria que a maioria das mães tem vontade de estar perto da sua cria. Temos esse instinto protector, acontece de forma natural. Algo desperta nas mães e as faz querer estar ali, sempre a contemplar o seu rebento. Algo despoleta uma necessidade de afecto, de proximidade. Não é por acaso que as mães entram num estado de alerta ao menor sinal de choro dos filhos, passam a ter um sono mais leve. Tudo isto é natural e não é mais do que a nossa extraordinária natureza a funcionar bem.

Nascemos com a capacidade de pegar os bebés ao colo. Temos o colo perfeito. Os nossos braços permitem que o bebé se encaixe em nós, que fique à medida do nosso peito, permite que os possamos alimentar (amamentando ou não), permite que a criança veja o nosso rosto, sinta a nossa respiração, escute a nossa voz.
Os bebés estão no ambiente uterino durante aproximadamente 40 semanas. Habituam-se ao ritmo da mãe, aos sons da mãe, a temperatura é constante, os sons são abafados, a luz é reduzida.

Isto deveria ser o suficiente para compreendermos que, ao nascerem, não estão de todo preparados para a distância da mãe. Não conhecem ninguém, não conhecem nenhum cheiro além do cheiro da mãe. Não conhecem as vozes, os estímulos, as luzes.
Vários estudos comprovam que o bebé precisaria de mais contacto físico. Os animais fazem-nos naturalmente, os mamíferos mantém as crias por perto fornecendo calor, alimento e protecção.
O bebé é o mamífero mais frágil e indefeso precisando do cuidado permanente dos pais e por mais tempo. A isto se chama apego. Quando um bebé nasce tem muitos poucos meios de sobrevivência se ficar sozinho. Por esse motivo, nascem munidos com um enorme instinto de sobrevivência. O choro é a uma das formas mais potentes de despertar a mãe para que cuide dele. Não têm muitas mais formas de se expressar e a mãe ainda não conhece todos os outros sinais. Mãe e bebé precisam de se conhecer, de estar próximos. Precisam de se cheirar, tocar. Mãe e bebé precisam de entrar num estado único, unirem-se. É assim que se despertam todos os nossos melhores instintos, numa das formas de amor mais extraordinárias, poderosas e puras. 

Nos primeiros meses do bebé, especialmente nos 3 primeiros meses, seria suposto que a mãe carregasse sempre o bebé consigo, que dormisse com ele, perto dele. Cientificamente isto está comprovado. É apenas deste modo que a amamentação funciona bem, que o corpo recebe a informação necessária para produzir o leite. É desta forma também que o bebé se sente mais estimulado a mamar porque identifica os cheiros. Mesmo quem não amamenta, desperta no bebé o sentido de proximidade da mãe, libertando desta forma hormonas muito importantes para o seu desenvolvimento como a oxitocina. Todos sabemos, no entanto, que isso não acontece. O nosso ritmo assim o exige. Dificilmente uma mãe é deixada com o bebé sozinha, surgem ajudas que, muitas vezes,se oferecem para pegar no bebé libertando a mãe dessa obrigação.
Em algumas culturas (desafio a que leiam sobre este tema), os bebés raramente choram. As mães atendem o choro dos bebés de imediato, carregam-nos por todo o lado em slings e amamentam em livre demanda.
Percebemos que na nossa sociedade isso não é totalmente possível. Ainda assim, seria mais fácil se aceitássemos que nos primeiros meses a nossa profissão é cuidar do bebé. Estamos em casa com eles e a prioridade deverá ser essa. Há meios que simplificam essa proximidade e que nos permitem andar com o bebé e ter de igual forma as mãos livres para as tarefas do dia-a-dia. Os slings, panos e mochilas ergonómicas são formas simples e naturais de carregar o bebé junto ao peito dos cuidadores e que lhes permite estar mais livres para tudo o resto. Está provado que os bebés choram com menor frequência quando isso acontece e não, não os habituamos mal, eles ainda nem tão pouco têm essa capacidade, de maus hábitos… o cérebo humano nasce ainda muito imaturo (a prova é que se continua a desenvolver pela vida fora), nessa fase o bebé apenas tem o seu instinto que lhe faz desejar o contacto físico costante.
As sestas diurnas, idealmente, seriam também feitas ao lado da mãe. Não apenas porque isso ajuda ao descanso do bebé, mas também da mãe que como sabemos, nesta fase, está exausta.

Muitas mães acabam por confessar que se sentem bem quando os seus bebés fazem a sesta ao seu colo ou junto a elas. Mas sentem medo também. Medo de não estarem a agir bem, de os estarem a habituar mal, a dar colo a mais. Fomos tão habituados com esta teoria, a nossa sociedade repete-o a toda a hora que temos tendência a duvidar do nosso melhor instinto.

Esta mãe, como muitas outras, sente esta vontade de estar junto ao bebé, de dormir com ela e, aparentamente, isso resulta para as duas. Mas ela própria confessa que tem medo de o dizer aos outros porque sabe que vai ser julgada. Não deixa de ser curioso que as pessoas digam que a parentalidade com apego, o cosleeping e o babywearing são “modernices” quando na realidade, a modernice são os berços e os carrinhos. Antigamente era frequente que as famílias partilhassem a cama e que as mães carregassem por mais tempo os seus bebés.

Respondendo ao comentário, sim, o Guilherme dorme connosco. Não foi algo super planeado, muito pelo contrário. Quando estava grávida acabei por decidir comprar o berço da Chicco Next2me que permite ser acoplado à cama dos pais. Era fantástico tê-lo ali muito perto de nós, mesmo não estando na nossa cama. Assim foi até perto dos 6 meses. Entretanto, não conseguia sequer conceber a ideia de o levar para o quarto dele, não fazia sentido para mim estarmos longe, até porque ele ainda não estava preparado, nem nós. Comecei a ler sobre o assunto, comecei a deixar de ler também, fartei-me de opiniões, fartei-me de teorias e decidi olhar para o meu filho, nada mais importa. Cada família é uma família, não existem no mundo dois bebés iguais e infelizmente, no meio de tanto ruído, deixámos de escutar o nosso coração e de conhecer o nosso filho. Aceito e compreendo as famílias para quem funcionou colocar o bebé a dormir sozinho. Sem dramas, sem choros. Se isso gerou harmonia entre todos. Se todos os membros da família estão felizes com essa situação, porque não?
O que importa aqui é garantir que é o que funciona para nós. Que nos sentimos bem com isso. Eu sei de muitas mães que colocaram o bebé no quarto por pressão, quer do pai, quer de membros mais afastados, quer do pediatra. E dizem ter sofrido, dizem ter chorado a noite inteira. Descrevem a ansiedade que essas noites lhe causaram. Eu não entendo. Não entendo porquê passar por isso.

Não vejo qualquer aspecto negativo no facto de o Gui dormir connosco. Neste momento tem o berço dele ao lado da nossa cama- Por vezes dorme lá uma parte da noite, algumas vezes a noite toda e outras deita-se logo connosco. Se acorda a meio da noite e está no berço, ou pede a mãe e adormece ou pede para vir para a nossa cama e vem logo sem dramas, choros. Criar o meu filho com uma relação de apego, segurança, amor, colo, mimo não é algo que eu precise justificar, já que me parece ser o normal, o natural.
Também tive medos, receios, passei fases piores e fases de extrema privação de sono. Procurei ajuda, tive consulta com a Constança Ferreira, informei-me, decidi continuar seguir o meu instinto e felizmente com um marido e pai que me apoia a 100%. O Gui é um bebé calmo, vejo a segurança e autonomia dele a crescer dia após dia. Mimo e colo não retiram autonomia. Pelo contrário. Torna os bebés em crianças mais felizes e que sabem o quanto são amadas. Eu dou as ferramentas para que o Gui sinta que tem um espaço seguro à sua volta que lhe permite explorar, sabendo que tem um porto seguro. Muito mais haveria a dizer…fica a promessa de mais sobre este assunto. Já agora, digam-me quais são as desvantagens que pensam que podem existir neste caso? Talvez seja um bom tema de discussão.