Acredito que ainda estamos longe da realidade em que todas as grávidas preparam o seu plano de parti. Já se fala nele durante alguns cursos de preparação para o parto, mas são ainda escassos os profissionais de saúde que o mencionam ou solicitam no dia do parto, e são ainda mais escassos os hospitais públicos que os aceitam. Cada vez mais, o parto é considerado um procedimento médico, todo ele cheio de procedimentos e protocolos. As excepções passaram a ser a regra. Importantes avanços na medicina que vieram salvar vidas, procedimentos fundamentais para ajudar a mãe e o bebé em situações excepcionais e críticas, tornaram-se rapidamente em rotinas médicas. Cesarianas de eleição, partos induzidos, monitorização permanente do feto, episiotomias, administração de oxitocina sintética, ruptura artificial de membranas, algaliação, entre muitos outros, são procedimentos sobre os quais o casal deve ter conhecimento para poder tomar decisões durante o seu parto. Nenhum destes procedimentos poderá ser realizado sem consentimento da grávida em condições normais, e a maioria não são necessários no decorrer de um parto normal.
Poucas são, no entanto, as grávidas que se impõe ou questionam quando estas situações ocorrem. Poucas são as grávidas que sabem que podem exigir mais. Podemos, por exemplo, restringir o número de pessoas no bloco de partos, podemos impedir toques vaginais constantes e realizados por profissionais diferentes, podemos e devemos exigir que todos os procedimentos nos sejam explicados antes de realizados. Trata-se do nosso filho, do nosso parto, de um dia marcante na nossa vida.
Um plano de parto é fundamental e deveria ser elaborado por todos os casais durante a gravidez. Trata-se de um documento onde ficam registadas todas as vossas vontades, tudo aquilo que pretendem no dia do vosso parto. Por ser para um dia tão importante, trata-se de algo que deve ser feito com cuidado, com detalhe e com consciência.
Deixo-vos 10 passos para a realização do plano de parto e para ajudar a conduzir a um parto humanizado e respeitado, tal como todas merecemos.
Passo 1 – Informem-se bem sobre este tipo de documento. O que se trata afinal? Para que serve? Onde podem tirar dúvidas? (deixo links no final deste post que podem consultar para responder a estas questões)
Passo 2 – Tomem conhecimento das várias opções que estão à disposição. Conheçam os vossos direitos durante o parto. É importante saber que existem outras hipóteses que por vezes não nos são sequer oferecidas. É nosso dever estarmos devidamente informadas dos procedimentos todos, assim como do nosso direito em recusar que algo nos seja feito contra vontade.
Passo 3 – Depois de conhecerem todas as possibilidades, devem sentar-se e pensar sobre o vosso parto. Este é um exercício muito importante e difícil. O mais complicado e conseguirmos desligar-nos de todas as ideias pré-concebidas e de tudo aquilo que nos vai sendo imposto pelos outros, quer pelos amigos e família, quer pelo nosso médico ou outros profissionais de saúde que nos acompanham na gravidez. O que pretendem realmente? O que idealizam para o dia do nascimento do vosso filho?
Passo 4 – Devem discutir estas vossas ideias com o vosso companheiro. A pessoa que escolhem para vos acompanhar durante a gravidez e no dia do parto, deve conhecer as escolhas e deve estar em plena sintonia com vocês. Esta cumplicidade é essencial.
Passo 5 – Existem pessoas especializadas nisto, pessoas que nos podem ajudar a ter mais informação para que as nossas escolhas possam, pelo menos, ser conscientes e informadas. Procurem doulas na vossa área de residência, conversem com várias para perceberem se se identificam. Criem uma rede de contactos para vos acompanhar neste caminho, quer durante a gravidez, quer no dia do parto e ainda no pós-parto. Este acompanhamento pode fazer toda a diferença na forma como a gravidez e o puerpério são vividos.
Passo 6 – Elaborarem o plano, considerando as escolhas que fizeram depois de reunirem toda a informação e recorrendo ao apoio e ajuda do vosso companheiro e da vossa doula, ou de outros intervenientes nestes processo.
Passo 7 – Contactem o local onde pretendem que o vosso filho nasça. É importante perceber a receptividade ao plano e quais os procedimentos habituais. É importante que o plano seja entregue com antecedência, de preferência, devem reunir com o responsável do serviço para discussão do plano para que no dia, independentemente da equipa presente, saibam quais as vossas escolhas.
Passo 8 – Considerem eventuais situações imprevisiveis para que possam saber como agir nesse momento. É também importante ter em conta que durante todo o processo podemos mudar de opinião e querer algo diferente do nosso plano, sem que isso nos deixe tristes ou frustradas.
Passo 9 – Se possível, rodeiem-se de uma equipa na sala de partos que vos seja familiar, com quem se sintam à vontade e em quem confiem. São muito poucos infelizmente, mas já existem hospitais que permitem que a grávida leve consigo a sua doula (para além do acompanhante) ou até mesmo parteira.
Passo 10 – Partilhem esta informação com amigas, com grávidas. Ajudem-se umas às outras. É fundamental lutarmos para que cada vez menos mulheres sofram de violência obstétrica. Os traumas pós-parto são uma realidade e, dependendo da situação vivida, pode afectar a vida não só da mulher enquanto mulher e mãe, mas também do bebé, do estabelecimento de um vínculo saudável, do sucesso na amamentação, na recuperação física, levando muitas vezes a traumas graves. Ajudem outras mães, a informação é a melhor arma de defesa.
Links importantes que podem consultar para ajudar a esclarecer estas questões e onde poderão retirar modelos para planos de parto.
Associação portuguesa pela defesa dos direitos da mulher na gravidez e parto
Exemplo plano partos (Pais&Filhos)
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