A Laura nasceu no Centro Hospital da Póvoa de Varzim. Moramos em Aveiro. A pergunta que mais nos fazem é “Porquê?”. 

    O parto não é um dia qualquer na nossa vida. É o dia do nascimento de um filho. O dia em que o trazemos ao mundo. Um dia que vai marcar o bebé e definir parte dele. Normalmente, programamos o primeiro aniversário do nosso filho com todo o afinco, queremos que tudo seja perfeito, mas esquecemos o dia do nascimento. À medida que a medicina avançou e foi oferecendo maior segurança e mais qualidade de serviços às mães e bebés, fomos perdendo pelo meio toda a humanização do momento. O parto hospitalar pertence cada dia mais aos profissionais de saúde, por uma questão de facilidade, todas as grávidas são tratadas por igual, um parto que decorre sem qualquer complicação é tratado igual a um parto que requer outros cuidados específicos. Essa generalização leva não apenas a cuidados desnecessários, mas também a atrasos em intervenções necessárias. Mais grave ainda, muitas vezes são esses mesmos procedimentos, essas rotinas médicas que fazem com que um parto que poderia ter decorrido normalmente, acabe por ser instrumentalizado. 

    À semelhança do tema amamentação (até porque estão ambos ligados), quando se fala de parto natural, de parto respeitado, de condições para nascimento, de Doulas de parto ou escolhas dos pais, a maioria das pessoas volta a erradamente a rotular estes pais de fundamentalistas e naturalistas. 

    Eu escolhi o lugar para a Laura nascer. Tenho consciência que apenas o fiz, porque tudo correu bem, dentro do esperado. Foi uma gravidez que decorreu sem problemas, uma bebé que crescia bem, não havia nada na gravidez que indicasse que existiria a necessidade de outros cuidados. As principais razões (entre tantas outras) foram: 

    1.  Aceitam plano de partos, aliás, o plano de partos é elaborado juntamente com uma enfermeira parteira (muitas delas são Doulas) antes do parto. No dia, assim que dão entrada, já o vosso plano está a ser analisado pelas parteiras que vos irão acompanhar. 
    2. Porque respeitam e ouvem a nossa vontade, os nossos desejos. 
    3. Sabem que o parto é um momento dos pais e do bebé. 
    4. Porque me senti quase em casa lá.
    5. Não há monitorização contínua (não havendo qualquer indicação médica para isso), podemos caminhar livremente, ter total liberdade de movimentos (qualquer grávida que possa escolher não opta por ficar deitada!). 
    6. Há parteiras incansáveis que monitorizam o bebé até no chão de joelhos, nunca perturbam a grávida. 
    7. Porque a episiotonimia lá não faz parte dos procedimentos habituais, mas sim excepcionais! 
    8. Porque não são realizados procedimentos completamente desnecessários como tricotomia, colocar algália ou catéter, clisteres, etc. (a não ser segundo indicação médica).
    9. Porque além do pai, pode estar outro acompanhante (por exemplo a doula) sempre presente ao longo do trabalho de parto. 
    10. O pai pode dormir no hospital!
    11. É prática rotineira o clampeamento tardio do cordão umbilical (como recomenda a OMS e quase nenhum hospital cumpre)
    12. O bebé só é vestido se e quando os pais quiserem, até lá, fica em contacto pele com pele durante todo o tempo. 
    13. Os primeiros cuidados ao bebé (se necessários) são realizados no peito da mãe. 
    14. Após o nascimento, depois de tudo controlado, os pais são deixados sozinhos com o bebé, num ambiente tranquilo e íntimo. 
    15. Todos os procedimentos são explicados e apenas são realizados mediante consentimento. 
    16. Podem ter com vocês qualquer objecto pessoal, podem até levar a roupa que quiserem (a bata não é obrigatória no parto normal.
    17. Caso exista algum problema com a amamentação, os métodos de suplementar são os que menos interferem na amamentação (como a utilização do copo em vez de biberão). 
    18. Não são realizados procedimentos como descolamento de membranas, rompimento de bolsa, administração de oxitocina sintética (a não ser que exista uma verdadeira necessidade para isso).
    19. Podem escolher a posição de parto. 
    20. Podem recorrer a outros meios de alívio de dor.

    Enfim, podia enumerar mais umas quantas vantagens, a verdade é que é difícil existir um local onde sejam mais respeitadas durante o parto. Claro que as coisas podem nunca correr como idealizamos e, infelizmente, há coisas que fogem ao nosso controlo. Mesmo tendo que realizar uma cesariana, muitas das razões indicadas atrás são válidas, não faz diferença ser uma cesariana ou um parto normal, o importante é que se sintam respeitadas o tempo todo, cuidadas, que sintam que esse é o vosso dia e do vosso filho! 

    Antes do parto, procurem o máximo de informação possível. Uma mãe informada faz toda a diferença. Não deixem que controlem totalmente o vosso parto. Peçam explicações, façam as vossas perguntas, percebam que opções têm. Acima de tudo, tentem escolher um sítio onde se sintam seguras, onde vos falem com respeito e empatia. Afinal, estamos a falar do nascimento do nosso filho. 

    Mais informação sobre plano de partos aqui.