Em Portugal, decidir ficar com os filhos a tempo inteiro é quase uma vergonha. Até aos 6 meses é tudo muito bonito, estamos na licença de maternidade, faz todo o sentido, ninguém nos faz perguntas, ninguém acha estranho os nossos filhos não estarem na creche. 

A Laura tem 8 meses, de repente, sinto que tenho uma criança crescida. Quando encontro alguém que me diz que ela já devia estar na creche, que lhe fazia muito bem, que não faz sentido ela estar em casa, até olho melhor para ela, não vá a miúda já ter 10 anos e eu nem me ter apercebido! Que mania esta que temos em querer que os bebés deixem de ser bebés. Depois dos 6 meses, começamos a ser olhadas ligeiramente de lado. Perguntam-me a toda a hora quando pretendo regressar ao trabalho, quais os meus planos, até quando quero ficar em casa, o que quero fazer a seguir. Quando digo que não sei, muito a medo, respondem que tenho que saber, porque já começa a ser hora de pensar nisso, ou então que nunca seriam capazes de fazer isto como se estivéssemos a falar de um horror de vida!

“Não podes ficar para sempre em casa, não te faz bem a ti nem a ela”. 

Desde quando é que estar com um bebé de 8 meses 24 horas por dia faz mal a alguém? Sim, é bastante cansativo, não nego. Mas haveria lugar melhor no mundo para um bebé estar? 

Não, não sei quando vou trabalhar. Não tenho planos. Não me vejo a deixar a Laura tão cedo, não sei se daqui a 1 ano, se daqui a 10. 

Eu sei que estou a fazer o melhor que podia pela minha filha. Sei que este é dos melhores presentes que lhe posso oferecer, estar comigo, sempre. Sei que ela não podia crescer em mais segurança, mais conforto, mais estabilidade, mais amor. Mesmo assim, não consigo e evitar sentir-me constrangida, como se fosse menos por ficar em casa, como se tivesse que ter mais objetivos para ser mais importante, como se ficar em casa fosse não ter vida própria. Como se tivesse vergonha de dizer que sou mãe a tempo inteiro. 

Esta devia ser a profissão mais valiosa de todas. Não sou mais necessária em trabalho nenhum do mundo! Ninguém precisa mais de mim do que a minha filha. 5 meses junto a um bebé é pouco, demasiado pouco! Devíamos lutar pelo direito de ficar mais tempo em casa, em vez de sonharmos tanto com o regresso ao trabalho, como se só pudéssemos ser felizes fora de casa. Eu diria que a maioria das mães, se pudesse, ficaria mais algum tempo junto ao seu filho. Triste é a licença de maternidade no nosso país e em muitos outros. Mas parem lá com esses comentários, parem lá de tratar as mães a tempo inteiro como se fossem menos úteis. Parem lá de fazer perguntas dessas. A Laura tem 8 meses, acabou de nascer, tem tempo, muito tempo de ficar longe de mim!