Se eles me chamam, eu paro. Sinto a pressão de ter tanto por fazer. Sinto a adrenalina de fazer algo que gosto, mas que exige muito de mim. Estou atrasada, olho para o relógio e fecho os olhos com força. Tenho que me apressar, não vou terminar a tempo. Depois eles chamam e eu ouço. Ela traz-me uma sopa imaginária de arroz colorido e avelãs e eu provo, digo que está deliciosa, ela sorri. Ele faz-me perguntas que me obrigam a pesquisar rápido no telemóvel, mas dou-lhe resposta. Paro o que estou a fazer quando eles me pedem um abraço, colo, maminha, pão com manteiga. Fazemos juntos um desenho e eu olho de relance para o trabalho em atraso. Mas depois vejo que ele levanta os olhos do desenho e sorri só por eu estar ali. Tudo pode esperar, só mais um pouco. Recebo ajuda deles que me atrasa ainda mais, mas que me enche de orgulho. Fazemos corridas, vou curar zangas deles com beijos, ajudo a ver a febre aos bonecos.

Eles chamam por mim e eu paro. Foram eles que me ensinaram a ser assim. Tudo pode esperar, menos eles, porque o que vivemos hoje já não se repete amanhã. Nem sempre é fácil, às vezes tenho pressa, mas sei que tenho que parar, vale a pena parar por eles.