Sempre quis ser mãe e sempre me imaginei a ser mãe. Não sabia que seria mãe no dia em que fui mãe, mas isso é outra história. Assim que soube que estava grávida disse que era um menino. Não adivinhei, como podem imaginar, mas manifestei o meu desejo. Quando fiquei grávida pela segunda vez, já não disse que era outro menino, mas disse que gostava de ser mãe de 2 meninos (de 3, na verdade, mas não digam a ninguém). Veio a menina.

Eu disse sempre que o meu filho rapaz não ia ser educado a pensar que existem brinquedos de menina e de menino, que não ia deixar de lhe vestir cor-de-rosa se ele me pedisse, dei-lhe um bebé para ele cuidar, comprei-lhe uma cozinha de brincar e mostrei-lhe sempre que ele podia ser quem ele quisesse, brincar com tudo, vestir saias se desejasse. Mas ele só gostava de jogar à bola, de atirar pedras para a água, de andar a alta velocidade de mota com 2 anos, e verbalizou, do alto dos seus 2 anos e meio que só queria vestir azul e preto, para ser mais precisa “azul escuinho”. Ao longo destes quase 5 anos (socorro!) ouvi muitas vezes (demasiadas) “ele é mesmo rapaz” e muitas outras frases do género. Aprendi que, deixá-lo ser quem ele quisesse, também significa que ele pode não gostar de rosa, nem de brincar com bonecas, e que pode adorar futebol (apesar de nem eu nem o pai ligarmos), ser do Porto (quando a família toda é do Benfica), e ser o tal rapaz que me dizem que ele é.

Já das meninas eu tinha uma opinião, tinha medo de ser mãe de uma, porque não me via com a casa cheia de vestidos de princesa (que eu nunca tive), ou a adorar purpurinas e rosa. Mais uma vez aprendi a lição, eles não nos copiam apenas, eles quando são livres, são o que são. Costumam brincar comigo a dizer que eu tinha tanta mania que os ia educar sem rótulos e que me saíram dois casos típicos dos esteriótipos mais comuns. A Laura adora princesas, bailarinas. O Gui quer ser bombeiro ou polícia. Ela adora vernizes e batons (e podem não acreditar, mas pintou as unhas a primeira vez, sem nunca me ter visto a mim pintar). Ele ainda ontem me disse “que nojo” quando lhe calcei umas meias com corações por engano. Ela brinca com bebés desde sempre, adora dar-lhes colo, “maminha”, passeá-los. Ele faz corridas com os carrinhos dos bebés dela, e já lhe partiu duas vezes as rodas de um! Quando tento vestir uma roupa mais escura à Laura ela chora, diz que é feio, que é roupa do mano. O Gui só aceita roupa cinza, azul, preta, verde e vermelha, desde que me lembro de ele ser gente! A única coisa em que eles são parecidos é no riso, no ar feliz, nas corridas pela casa enquanto os apanhamos, brincam os dois com dinossauros e com a cozinha, inventam brincadeiras juntos, adoram mexer em tudo o que seja terra, água, materiais estranhos.

Eu não imaginava que ele gostaria destas coisas e que lhe chamassem “mesmo rapaz”. Não me imaginava com princesas em casa. Mas eles são assim, são o estereótipo que eu combato. E combater isso é aceitarmos sempre como eles são e ensinar-lhes a nunca terem medo de o mostrar.