Ontem, enquanto assistia à prova de vestidos de noiva para a minha irmã, fiquei a saber que estou gorda. Pelo menos, segunda a senhora que nos ajudava, já que enquanto espetava alfinetes aqui e ali, decidiu comentar a magreza e elegância da minha irmã, elogiando a minha mãe, e olhando de seguida para mim, fazendo a s seguinte pergunta:

“Também era assim antes de ter filhos?”

Ainda tive a ingenuidade de perguntar “assim como?”, mas a amável senhora não deixou cá margem para dúvidas.

“Assim magrinha!”

Raramente escrevo aqui sobre o excesso de peso que me acompanhou durante grande parte da minha adolescência. Em parte, porque esse assunto foge à temática do blog, mas também porque deixou de ter a importância que teve em tempos. Já fui mais gordinha sem que isso me afectasse, depois passou a ser um enorme peso em mim e na minha vida. Comecei a detestar o espelho, a passar noites completas acordada a pensar que tinha que mudar, que tinha que perder peso, que tinha que agir. Mas, na manhã seguinte, tudo voltava ao normal. Deixei arrastar, enquanto arrastava também a minha auto-estima pelo chão. Até que se tornou difícil. Até que deixei de ser a pessoa sociável e bem disposta. Até que deixei de me sentir bem quando falava com pessoas ou quando tinha que sair. Um dia, do nada, decidi que já mudar e mudei. Mandei 25kg embora, passei a ir ao ginásio sempre que podia, às vezes todos os dias. Passei a gostar de escolher roupa nas lojas. E foi quando ouvi, pela primeira vez na vida, que era magra.

Isso não me fez sentir melhor comigo mesma. Uma coisa é o número que a balança nos mostra. Outra é aquilo que a nossa cabeça nos deixa ver.

Depois fui mãe. Voltei a ver os números da balança subir e debati-me com muitos fantasmas antigos. Foram mudanças muito difíceis de aceitar, especialmente quando finalmente estava mais magra e motivada.

4 anos depois, não consigo atribuir sequer metade da importância a esse assunto. Primeiro, porque recuperei o peso que ganhei nas gravidezes. Não estou magra, mas também não é esse o meu objetivo. E depois, porque tenho tantas outras prioridades na minha vida, que essa acaba por vir em último plano.

Estarmos bem, é mesmo muito mais do que pesar menos ou mais. E eu sou a prova disso. Mas ontem, ao ouvir aquelas palavras, não pude evitar viajar ao passado. Relembrar os comentários menos bons. Recordar como era sentir que toda a gente à minha volta era mais magra. Se já sou capaz de ignorar? Claro que sim. Mas talvez este vá ser um assunto mais delicado para toda a minha vida. Somos feitos de todos os anos que vão passando na nossa vida. E é tão difícil derrotar alguns esqueletos dentro do armário.

PS: Não, já não comprámos lá o vestido e era bom que as pessoas começassem a medir as palavras, especialmente quando estão no atendimento de uma loja.