Por aqui não, de certeza!

Cá por casa não sabemos o que é uma noite completa há 3 anos e uns dias. Não me lembro quando foi a última vez que dormi 4 horas seguidas, mas foi há muito, muito tempo atrás. Costumava receber várias mensagens em que me perguntavam como aguentava a noites com o Gui, já que ele não dormia propriamente bem, sempre acordou muitas vezes, passou algumas fases em que estava acordado 2 e 3 horas a meio da noite, só porque sim. Na altura foi difícil, a privação do sono quase nos enlouqueceu. Olhando para trás, tenho a certeza que o mais complicado foi a gestão de expectativas. É acharmos que os bebés dormem. É pensarmos que o nosso bebé vai dormir umas boas horas seguidas, caso não o faça, algo de errado se passa. É ouvirmos os outros pais, aqueles que nos dizem que os seus filhos dormem a noite inteira. É escutarmos as vozes do tempo que apenas repetem o que sempre ouviram “não podes fazer assim”, “a culpa é tua”, “tens que o habituar”, “assim não pode ser, ele tem que dormir, ou terá problemas”.

Desses tempos mais duros, há algo que me deixa sossegada, que me deixa bem comigo própria. Nunca deixei o meu filho, nunca o deixei chorar, nunca o deixei sozinho, nunca o ensinámos a dormir, nunca o abandonei. Sim, ainda lhe gritei algumas vezes a meio da noite como se ele pudesse entender. Sim, pedi-lhe por favor para dormir muitas vezes. Sim, irritei-me e chorei de desespero. Mas nunca, num único segundo, me passou pela cabeça que ele tivesse que ficar sem nós para dormir. Dormiu sempre no nosso quarto, sempre até querer. Ainda hoje dorme quando lhe apetece. E não me arrependo de nada. Na verdade, passou tudo demasiado rápido, ele cresceu e agora dorme. Já passou tudo. Não valia a pena ter entrado em desespero.
Quase toda a gente que nos conhece ou que me lê julga que a Laura dorme a noite toda, ou que dorme bem melhor que o irmão. Os nossos amigos, as pessoas que se cruzam connosco, mesmo alguns familiares assumem que a Laura “é mais fácil que o irmão, dorme melhor”.

O tema sono desapareceu das nossas vidas. Ela não dorme melhor, simplesmente isso não é um problema na nossa cabeça. Apenas desabafo algumas noites piores com duas ou três pessoas mais próximas, e porque elas entendem o que quero dizer. Claro que cansa, claro que tenho sono, sei o que é estar privada de dormir durante muito tempo. Mas aprendi uma coisa mesmo muito valiosa, há uma parte muito importante de tudo isso que está na nossa cabeça. Dentro de nós. Eu não tenho expectativas em relação à Laura. Eu nunca penso se ela vai dormir melhor com 6 meses ou com 1 ano. Eu não espero que ela durma. Eu não tento ler nada sobre isso. Eu não acho estranho que ela queira mamar de noite, não culpo a mama, não me ponho a inventar que ela possa ter fome. Não penso se é da cama, do colchão, ou do gel de banho. Não sei como cheguei até aqui, mas a verdade é que é tão bom. A Laura acorda várias vezes de noite. Também já dormiu noites quase completas. Esta noite mamou 5 vezes, por exemplo. Se acho muito? Não! Ela acorda, mama, adormece e eu também. Umas noites dorme mais na cama dela, outras na nossa, outras no colo do pai, outras no meu. Não pensamos nisso, não criamos planos, não estabelecemos objetivos.  Tentamos que todos durmam o máximo possível, e isso vai depender da noite. A parte boa é que funciona. É libertador. O tema sono é demasiado pesado na vida dos pais. É tão bom aceitar que é normal, que a maioria dos bebés não dorme a noite toda, que a maioria dos bebés precisa de conforto durante a noite, precisa de mamar. Ajuda saber que a maioria dos bebés vai passar a dormir bem mais rápido do que imaginamos.

Tenho saudades de uma boa noite de sono, ui se tenho! Mas sabemos que tão cedo isso, provavelmente, não vai acontecer. Por isso, aproveitamos as noites melhores para ganhar forças para as piores. E um dia, daqui a menos tempo do que desejaria, vou ter novamente as noites completas de que tanto se fala.

Sei que há por aí pais que não dormem. Bebés acordados de noite. Há por aí famílias desesperadas. Mas vai passar!

Se precisarem de apoio, recorram à maravilhosa fada dos bebés, a Constança Ferreira, no Centro do bebé.

A minha opinião sobre o livro “Os bebés também querem dormir”.