Falar sobre a partilha de cama ou de quarto com os pais é talvez dos temas mais difíceis e controversos. Se por um lado há tanto para falar sobre isto que chega a ser complicado saber por onde começar e quais os pontos a abordar, por outro lado, sei que gera sempre controvérsia, há quem ame e quem odeie.

É, no entanto, esta a beleza da maternidade, não precisamos pensar em agradar a ninguém a não ser aos nossos filhos e ao nosso núcleo familiar. Ou seja, se vocês estiverem bem com uma coisa, óptimo! Não tenham medo de expor o vosso ponto de vista, de defender as vossas convicções. Para mim é muito importante dar a minha opinião sobre este assunto, é fundamental que cada vez mais famílias pensem sobre o que implica deixar um bebé a chorar sozinho, ou os efeitos que provoca um treino do sono e as suas consequências no futuro. É nossa obrigação tentar acabar com aquilo que cada vez mais pais acham normal, uns por desespero, outros por desconhecimento total. Eu quero genuinamente acreditar que, no fundo do coração de cada mãe e pai que o faz, está o sentimento de estarem a fazer o melhor que sabem. Mas isto não é desculpa para tudo. O melhor que sabemos também precisa de actualizações e é a nossa obrigação enquanto pais estarmos informados sobre certos assuntos e, acima de tudo, desmistificar alguns medos.

Este tema será abordado mais vezes por aqui, até porque é uma constante na nossa vida. Hoje fico-me apenas pelos principais motivos que levam os pais a terem medo de dormir com os filhos ou a mentir sobre estes assuntos.

O julgamento dos outros pais

Este é o medo mais comum que leva a que muitos pais tenham medo de assumir que dormem com os filhos, como se de um erro ou de um crime se tratasse. Um dia destes falava com uma mãe à saída da creche, o tema sono e noites acabou por surgir e a mãe questionou-me como eu adormecia o Gui e se ele dormia sozinho. Eu expliquei que não, que adormece de mãos dadas e na nossa cama. Um sorriso apareceu na cara daquela mãe enquanto me dizia que a dela também e me explicava quais os seus hábitos. Disse que tinha medo porque toda a gente lhe dizia que estava a habituar mal a filha. Eu acabei por dizer que o Gui dorme connosco e mais uma vez consegui perceber o alívio dela que acabou por confessar que também o fazia, mas em segredo, que normalmente nunca comentava isso porque era sempre julgada.

Não consigo evitar ficar com isto na cabeça, até porque não é a primeira vez que me acontece! Não deveriam ser os pais que deixam os filhos chorar durante horas, tudo às custas de os obrigar a dormir sozinhos no quarto deles por 8 horas seguidas, que deveriam ser julgados? Deixar chorar até à exaustão e até à desistência é mais bem aceite do que dormir com os nossos filhos. Claro que não estou a falar das crianças que pacificamente dormem nos seus quartos, conheço muitos casos de transições super tranquilas, felizes, de pais que continuam a levantar-se sempre que os filhos chamam, e de mães que continuam a amamentar 2 e 3 vezes por noite bebés de 20 meses, mas que dormem nos seus quartos. Obviamente que estas crianças não se sentem abandonadas ou sozinhas e que, nestes casos, simplesmente funcionou melhor para a família, o importante é encontrar o equilíbrio e transmitirmos a maior segurança possível aos nossos filhos.

Inseguros, dependentes e mimados

Este é outro dos grandes medos e argumentos por parte dos pais que colocaram os filhos a dormir sozinhos, a qualquer custo. Existe um medo terrível de estarmos a criar crianças dependentes, pouco autónomas e que irão permanecer na cama dos pais até serem adultos. Esta foi uma das questões que nos passou vagamente na cabeça quando o Gui era recém nascido. Será que poderá vir a ser dependente demais se ficar sempre a dormir no nosso quarto? Durante a gravidez lia por todo o lado que a transição do bebé para o quarto dele deveria ser o mais cedo possível para ele não sofrer com isso. Ouvi também este conselho algumas vezes. Posto isto, pensava que lá para os 6 meses seria a altura ideal para o fazer. Os meses passaram e por inúmeras razões (que ficarão para um próximo artigo) este dia ainda não chegou e estamos quase com 21 meses de co-sleeping. Não foi preciso muito para encontrar um milhão de argumentos que contradizem totalmente a teoria que vem sendo difundida por aí. Ao contrário do que se prega de boca em boca, as crianças que dormem com os pais até mais tarde e que fazem a transição por elas são crianças mais autónomas, confiantes, independentes, seguras e felizes. E escusam de me vir mostrar que leram não sei onde um artigo que dizia que um senhor de 45 anos ainda dorme com os pais à custa de co-sleeping. Será às custas de algo sim, mas nunca por ter vivido num seio familiar que lhe proporcionou uma educação baseada em apego e afecto.

Isto é muito simples, se eles aprendem que estamos lá, que respondemos quando chamam, que podem confiar em nós, porque não seriam pessoas mais confiantes no futuro? A auto-estima e a segurança nascem assim. Nascem no colo dos pais. Forçar uma criança a estar sozinha, com medo, a chorar e a chamar mas que aprende que os pais não vão, tende a ser uma criança menos segura dela própria, que desconfia que a amam incondicionalmente e que tenta agradar para não ser colocada de parte. Isto obviamente parece alarmista, e poderão sempre existir casos que não resultaram nisto, mas as evidências assim o demonstram. Não há que ter medo de mostrar que estamos ali sempre, mesmo que chamem de 5 em 5 minutos (eu sei, custa tanto). Habituar alguém a ser amado, não me parece de todo um mau hábito.

A vida sexual do casal

Este é o argumento mais fraquinho. A vida sexual de um casal está longe de ser só na cama e há mil e uma formas de contornar esta situação, basta querer. As pessoas que acreditam que isto desenvolve hábitos sexuais estranhos nas crianças, só pode ter alguma perturbação a esse nível. Felizmente, as teorias Freudianas são muito mais do que isso, não podemos cair no erro de sexualizar tudo, especialmente comportamentos naturais e instintivos da natureza, é hora de abrir os horizontes. Fico ainda mais chocada quando vejo pessoas da minha idade pensar algo assim, até porque há mais teorias depois dessa que convém que os pais explorem.

A vergonha

Muitos pais sentem vergonha de admitir isto o que faz com que os filhos também a sintam quando já têm essa capacidade. Normalmente, quando uma mãe ou um pai diz que o seu filho ainda dorme com eles, todos os dias ou apenas esporadicamente, há sempre alguém que diz “isso não é normal” (de acordo com a idade que consideram aceitável). Aqui é importante definir o normal. O normal já foi partilhar a cama, só deixou de o ser mais tarde. O normal é as mães (ou cuidadores próximos) estarem junto dos filhos, a maior parte do tempo. O timing de tudo isto varia de família para família e de criança para criança. Se um dia o meu filho mostrar interesse em dormir sozinho, tem o quarto dele à espera, poderá sempre regressar à nossa cama se assim o entender. Se uma criança chorar noites inteiras, se mostra ansiedade na hora de ser largada no berço, se chama repetidamente e pede para dormir com os pais, então que me desculpem, mas não há nada dito “normal” nesse comportamento. Definitivamente indica que a vossa criança não estava preparada para isso e que precisava de mais tempo.

Discórdia de casal

Outra situação que já me expuseram foi a discórdia com o outro cuidador. Um dos pais quer dormir com o filho, o outro não quer. Nesta, e em todas as questões relacionadas com os nossos filhos, é necessário haver muito diálogo entre o casal para que estas peças não fiquem soltas. Não precisamos estar de acordo em tudo, isso seria aborrecido, mas há pilares que têm que coincidir, caso contrário, cada um puxará indefinidamente para seu lado, gerando dúvidas na criança que se apercebe facilmente destas hesitações e contradições por parte dos pais. O co-sleeping deverá ser discutido a dois, os dois devem estar de acordo sobre a estratégia que vão tomar. Custa-me ouvir relatos de mães que ficaram noites inteiras a chorar porque o pai achou que estava na hora (ou vice-versa). A passagem para o quarto deles deverá ser pacífica em todas as direcções. Mais uma vez, se levanta esse nível de sofrimento, então não estava na altura certa.

Os perigos

Vejo inúmeros alertas ao perigo que representa partilhar a cama com os pais. Argumenta-se que o bebé poderá sufocar ou ser esmagado por um dos pais durante o sono. Estes avisos são extremamente alarmistas e por vezes completamente infundados. Co-sleeping foi apontado como uma das formas mais seguras de um recém nascido dormir. Há regras a seguir e que qualquer pai que deseje ter o filho na sua cama deverá ler em primeiro lugar (tema de futuro artigo). Salvaguardadas as principais medidas de segurança, dormir com o bebé oferece inúmeras vantagens. A amamentação é facilitada e assegurada por mais tempo, o sono dos pais terá mais qualidade e a família descansa mais, o bebé será socorrido mais facilmente no caso de engasgamento ou outra dificuldade, está provado que as mães desenvolvem padrões de sono que lhes permitem estar completamente alerta entrando em estado protector (nunca vos aconteceu acordarem com uma mosca desde que são mães?). Reduz a percentagem de SIDS (síndrome de morte súbita), se pesquisarem, há estudos que comprovaram que nos países onde o co-sleeping é mais praticado, como nos países asiáticos, os números de morte súbita do recém nascido são quase nulos.

Antes estas questões passavam-me ao lado,mas depois de ler mais, apercebi-me que estas campanhas sensacionalistas são lançadas pelos principais interessados: os vendedores de berços! Há berços incríveis que custam milhares de euros e que garantem a suposta segurança máxima dos bebés. Todos sabemos que não há público alvo mais fácil de convencer do que os pais, já que estão sensíveis a estes assuntos e fazem de tudo pelos seus filhos.

Cultura

Acima de tudo aprendi que esta é uma questão bastante cultural. Hoje em dia assume-se que a criança deve dormir no seu berço, com a inclinação xy, que o bebé não pode estar ao colo por mais de x minutos e que os pais devem ser firmes na hora de educar. Foi-nos incutido que é nossa obrigação ensinar os nossos filhos a dormir bem, a descansar 10 horas seguidas. Ninguém aprende a dormir, dormir não é uma capacidade que possa ser treinada. Todos dormimos, mas para dormir temos que ter boas condições reunidas, mesmo enquanto adultos. Temos que nos sentir bem, seguros e calmos, temos que ter a capacidade de desligar, de fechar os olhos e de nos tornarmos assim mais vulneráveis. Se para muitos adultos isto é difícil, imaginem para uma criança. Por outro lado, é também cultural a nossa necessidade de ter um sono ininterrupto. A privação do sono é uma das grandes preocupações dos pais, ainda durante a gravidez. Não é à toa que é uma das piadas que mais pais fazem a futuros papás. Perante noites e noites mal dormidas, os pais começam numa busca incessante de soluções mágicas e é nessa altura qe estratégias apelativas como ensinar o bebé a dormir em x dias nos soam tão bem. Nós passámos por muita privação de sono, foi duro e existiram dias em que questionei o que estava a fazer, em que ponderei mudar de estratégia, simplesmente percebi que seria incapaz de ouvir o Gui chorar por 1 minuto que fosse sem que eu estivesse lá para ele, foi simples. Quero acreditar que com o passar dos anos, estes hábitos culturais se vão alterar novamente e que vamos aceitar com naturalidade o nosso instinto de mães.

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O nosso quarto

Lembram-se de mais motivos? Querem acrescentar algo à lista?

Acima de tudo, o equilíbrio familiar deve estar assegurado, quer durmam na cama dos pais, ou no seu quarto, se tudo for pacífico e se estamos bem connosco próprios, então certamente funciona e a criança estará bem e feliz.

Para mim é muito simples, se o co-sleeping pode favorecer a relação afectiva entre filhos e pais e se aumenta a confiança nos pais. Se os torna mais seguros, mais calmos, mais felizes. Se está provado que ajuda a regular os sonos do bebé tornando-o mais tranquilo e estável. Se favorece a harmonia familiar e proporciona a oportunidade de se estabelecer um laço único para a vida, então porque não? Um dia irão lamentar terem perdido esse tempo…se nunca dormiram agarradinhos aos vossos bebés, então não sabem o que estão a perder 🙂