Ainda, obrigada.

A minha filha nunca deixou de mamar, por isso, ainda tenho leite. É incrível, certo? 19 meses a produzir um leite especial, único, só dela, feito com tudo o que ela precisa, ela especificamente, não outro bebé. 19 meses de um leite sem imitação possível, um leite que só existe porque ela existe também. Um leite que eu produzo, porque ela precisa, porque ela pede, porque ela mama, porque ela quer, porque é dela, nosso.

Tem 19 meses e ainda bebe leite, o que não é estranho, considerando que a maioria das pessoas defende o leite de vaca pela vida fora. Mas este que é o meu leite, o único produzido explicitamente para bebés, causa estranheza. Ela bebe leite, sim. Porque ainda precisa. Mas também mama por muitas mais razões, conforto, consolo, porque caiu e precisa de mimo, porque levou uma vacina, porque está doente, porque está cansada, porque está com sono, porque chegou a um sítio cheio de gente estranha, porque está envergonhada, porque está agitada, porque precisa, porque lhe apetece.

Hoje, preferia que a minha filha mamar com 19 meses não fosse sequer motivo de admiração. Mas já que o foi, em vez de me perguntar se eu ainda tenho leite, ou se isto é só vício, teria sido tão melhor ouvir um “parabéns por continuar a oferecer o melhor leite à sua filha”.

Fala-se muito do fundamentalismo de quem amamenta, fala-se muito de quem fica magoado quando se afirma que não há leite igual. Mas não se fala disto, da pressão que existe para quem consegue e quer amamentar.

Amamentar pode ser uma escolha, pode não resultar, não nos define enquanto mães e jamais quantifica o amor que temos pelos filhos.

Mas não há leite igual. E, hoje, é um acto de coragem!

Ainda tenho leite. E, sim, é um vício, porque as cosias boas viciam. E nós estamos as duas viciadas neste amor.