A minha filha é a razão pela qual estar em casa é tão fácil. Estou sempre à espera do dia em que me vou fartar ou arrepender desta decisão, como todos me avisaram. Já passaram quase 10 meses em casa, e quase 7 com ela para cuidar e parece sempre que foi ontem. Até eu cheguei a pensar que iria maldizer o dia em que tomei esta decisão, esta não era eu há algum tempo atrás. Nunca fui a mãe a tempo inteiro, nunca fui a mãe de ficar em casa, nunca fui a mãe de abdicar do trabalho, de outros interesses ou de uma vida agitada fora do chão da casa coberto de brinquedos. Achava eu que me iria cansar de tantos “bababa” e “tatata”, e ter saudades das conversas sérias e cheias de conteúdo. Que iria sentir falta de almoços de trabalho, em vez de almoços que dão tanto trabalho, a preparar e a limpar. Esse dia não chegou. Ainda não chegou. Não consigo fartar-me disto. Não consigo cansar-me, porque a minha filha muda todos os dias. Quando acordo, nunca sei o que o dia me reserva, quantas surpresas, quantas gracinhas novas ela vai fazer, o que ela vai querer ver, comer, dizer. Chego sempre ao fim do dia admirada com tantas coisas que tenho para contar sobre ela. Coisas que eu vi, que eu pude assistir, que eu pude observar e registar na minha memória. Ninguém me conta o que a minha filha fez. Ninguém precisa de me contar se ela se riu hoje, se bateu palminhas ou comeu pouco ou muito. Eu vejo. Vejo todos os minutos da vida dela. Assisto a todas as descobertas, novos sorrisos, frustrações, a todo o palrear dela, a todos os olhares apaixonados. Não é possível cansar disto. Mesmo naqueles dias em que estou exausta, não me passa pela cabeça estar noutro lugar. 

Não sei se me vou fartar daqui a um dia, um mês ou um ano. Não sei se chegarei a fartar. Mas, até lá, estes foram alguns dos melhores dias da minha vida, Laura.