Duvidei algumas vezes das nossas escolhas. Sabia que eram as únicas que me imaginava a ter. Tentei sempre deixar que o meu instinto me guiasse e tentei ouvir o coração. Mas quando falamos dos nossos filhos, da educação deles, da felicidade deles, a responsabilidade é grande e traz sempre tantas dúvidas. Ajudou estarmos quase sempre em sintonia cá em casa. Eu e o pai. Bater nunca foi uma opção. Educar pela autoridade e medo também não. Os castigos pareceram-nos sempre um insulto às capacidades dos nossos filhos e sem grandes ensinamentos. Deixar sozinhos para que durmam ou aprendam também não. Acho que facilitou muito não sermos capazes de ir contra o que sentimos. Mas, mesmo assim, apesar de tudo aquilo que fomos lendo, apesar de lá no fundo sabermos que só faz sentido se for assim, apesar das conversas que tivemos tantas vezes, não é fácil nunca duvidar do caminho. Duvidamos quando o nosso filho parece ser o único bebé que não dorme, duvidamos se temos um filho que bate para se defender, ou que não quer dar um beijinho a toda a gente quando chega. Duvidamos quando eles nos desafiam e tentam impor a ideia deles. Duvidamos quando nunca lhes negamos mimo, atenção e tempo e, mesmo assim, há um dia em que eles fazem uma birra épica que nos deixa sem saber o que fazer.
Não é fácil quando temos muitos olhos colocados em nós, olhos que esperam que lhes preguemos aquela palmada no rabo que parece tão necessária, os olhos que se admiram quando me baixo e lhe falo nos olhos, os olhos que me viram dar abraços em vez de castigos. Tentei muitas vezes explicar que educar assim não é ser permissivo, mas de nada adianta quando quem nos ouve tem outra forma de educar (e não há nada de errado nisso). Senti muitas vezes que eu era menos permissiva até do que muitos pais à minha volta que castigam ou obrigam. Nós impomos regras na casa, regras que todos temos que cumprir. Nós estabelecemos os nossos limites pessoais que eles com o tempo aprendem a respeitar. Nós explicamos, muitas e muitas vezes, e isto começa quando eles nascem, na forma como lhes falamos, como os integramos e recebemos na nossa casa. Parece frustrante quando estamos a tentar falar com calma, a explicar, a ouvir, a respeitar e parece não estar a resultar.

Depois um dia, do nada, eles vão crescendo. E é nesses dias que percebemos que algumas coisas vão começando a dar frutos. Não sabemos se será sempre assim. Não fazemos ideia que caminho eles seguirão no futuro, que tipo de adultos serão. Mas agora, com 3 anos e meio, começo a ver que podia ter duvidado menos. Podia ter sido ainda mais paciente. Podia não ter chorado quando pensei coisas piores sobre ele. Porque agora eu olho e vejo uma criança genuína, que se expressa, que nos ouve, que quando lhe pedimos alguma coisa ele cumpre porque entendeu, uma criança que argumenta e tenta vencer alguns pontos, uma criança que empresta, que partilha na hora certa e não apenas porque foi forçado a fazer isso. Uma criança que já sabe que bater não resolve tudo, que podemos pedir, conversar, dizer não. Uma criança que quando nos vê tristes ou em baixo, faz de tudo para ajudar. E não faz mal se não for sempre assim, desde que sejam eles mesmos, desde que aprendam o que é ser empático, desde que saibam que não precisam ser exatamete o que os pais idealizam ou o que a sociedade impõe. Porque se os educarmos com amor, garantidamente eles aprendem a colaborar, a serem parte das soluções, aprendem os limites e conhecem as regras, porque o mundo já está cheio deles, não precisamos ensinar tudo, precisamos guiar e ajudá-los a compreender as consequências.

Com 3 anos e meio, não podíamos estar mais orgulhosos dele. Mesmo nos dias menos bons. Cada vez nos questionamos menos, temos mais certezas que este é o caminho, porque mesmo que não resulte, nunca será por falta de amor e segurança, nunca será porque não o deixámos ser ele próprio. E só vale a pena se assim for.