Tu não trabalhas. Até o meu filho já me disse isso, mais do que uma vez.

Há uns dias uma mãe fez-me uma questão, porque é uma das coisas que acontece com ela: que profissão colocar quando temos que preencher algum papel? Eu compreendi o que ela me disse, na perfeição. Os últimos papéis que preenchi foram os da piscina da Laura e escrevi “desempregada”, a muito custo. Não pela condição em si, atenção, mas porque no fundo não é assim que me sinto, mas é assim que a sociedade me vê.

Eu não trabalho. Por isso, as pessoas esperam que eu tenha tempo para tudo. Nunca pressupõem que possa estar ocupada a determinada hora, assumem que eu tenho uma vida mais relaxada e dizem-me “quem me dera”, mas só quando no dia a seguir é segunda-feira, só quando ficar em casa parece bom. Em tudo o resto, ouço mais “não seria capaz, que horror”.

Sejamos práticos, quando uma mãe está em casa com os filhos, deixa de ser a super mulher. Não somos as empreendedoras que toda a gente aplaude, não somos aquelas mulheres que marcam a diferença no mundo, que estão à frente de projetos incríveis, cheias de garra. Ninguém nos vai admirar por passarmos o dia em volta dos filhos, a brincar, a mudar fraldas, ninguém nos vai dizer que fizemos um bom trabalho ao preparar lanches saudáveis para eles, ou alguma atividade mais complexa. Não nos vão elogiar por dar banho enquanto eles imaginam que estão num barco de piratas em plena tempestade, enquanto nós fechamos os olhos à água espalhada pelo chão. Não há muito a dizer sobre estarmos 24 horas ao lado dos nossos filhos, enquanto abdicamos de tempo para nós, ou para outros projetos. E bem sei, quando é uma escolha, o direito à queixa fica limitado. Não me posso queixar, foi assim que eu quis.

A forma como a sociedade olha para as mães que decidem ficar em casa com os filhos mais tempo, ou até mesmo que decidem abdicar de uma carreira profissional para poderem estar mais disponíveis para a família, ainda que os filhos já estejam na escola, magoa. A mim, que estou segura da minha opção, que sou grata por poder ter esta oportunidade, que sei que não poderia estar num lugar melhor ou onde precisassem mais de mim, magoa. Por isso, imagino que magoe ainda mais a quem, por exemplo, não teve outra opção. Ou até a quem toma esta decisão, mas sem o apoio da família.

Eu sei que sou a primeira a ter que valorizar o que faço, só depois posso esperar que mais alguém o faça. Mas cansa. E às vezes é isso, às vezes aceito só o “Tu não trabalhas”. Porque na verdade não sinto o que faço como um trabalho, porque isto é tão mais do que um emprego qualquer, e percebo que não seja pago, porque se fosse, teria mesmo que ser o trabalho mais bem pago do mundo.