Não sei exactamente há quanto tempo me sinto a tua mãe. Não me senti logo mãe quando olhei para o teste de gravidez positivo. Senti-me só estranha, aquele momento em que nos deparamos com a realidade e pensamos “E agora?”. Quando ouvi o teu coração pequenino pela primeira vez, com 6 semanas de gestação, foi quando acreditei que tudo isto era a sério, estava um ser vivo dentro de mim, parte de mim e eu ia ser mãe, ou já era mãe, mas ainda não sabia que era a TUA mãe.

Tudo ganhou mais contornos quando soube que eras um menino, que te chamarias Guilherme. A barriga cresceu e as pessoas começaram a sorrir-me nas ruas, sem que eu as conhecesse. Nas consultas chamavam-me mãe.

Passei metade da gravidez a sentir-te mexer, dar pontapés, quase conseguia tocar-te com as minhas mãos. Já no final, eras a minha companhia, o meu bebé, e a curiosidade em cheirar-te e conhecer-te o rosto era gigante. Depois nasceste e eu disse à minha mãe que era como se não fosses o mesmo bebé que eu tinha ali dentro. De repente estavas ali, no meu colo, podia olhar-te e sentir-te. Foi aí que nasceu a Mãe em mim. Porque era a tua mãe mais do que nunca. Todo o amor que já sentia e já achava ser enorme, explodiu e deu lugar a todo um novo sentimento enquanto os dias passavam ao teu lado.

Ser a tua mãe foi conhecer-te e nunca deixar de me apaixonar diariamente, até hoje. Foi pensar várias vezes que dificilmente te poderia amar mais do que isto, mas é sempre possível, porque é sempre um novo amor todos os dias. Porque todos os dias te conheço ainda melhor, ser a tua mãe é aprender a dar-te o teu espaço para que sejas quem tu realmente és. Tentar todos os dias não te mudar, não te moldar, mas permitir-te ter a tua vontade, dizer os teus nãos, expressar as tuas frustrações e as tuas preferências. Ser tua mãe é aceitar-te como és, e esse sim é o papel mais difícil de um pai. É reaprender a anular expectativas e a deixar-me apenas conduzir por ti e ensinar-te que podes confiar em mim para te conduzir também às vezes. Porque o amor incondicional é mais do que dar a vida por ti, amar-te assim, é amar-te como és, mesmo nos momentos em que é necessário reorganizar-me por dentro para deixar de lado o que idealizo e aceitar que tu és assim por inteiro…amar-te a ti é isso mesmo. Amar-te quando estou cansada da mesma forma que nos dias bons. Amar-te em quantidades iguais quando afinal descobri que nem todos os bebés dormem bem. Amar-te exactamente com a mesma dimensão quando atiras algo ao chão, quando estás zangado e frustrado, quando em vez de um beijo levantas antes a mão. Ser tua mãe é aprender tudo isto, és tu que me indicas o caminho.

Hoje sou cada vez mais tua mãe, já não sou a mesma que te pegou no dia em que nasceste, sou mais tua mãe ainda. E sei, do fundo do meu coração, que o quero mais é poder continuar a ser todos os dias mais mãe. Conhecer o tanto que ainda tens por revelar. Ter-te sempre debaixo do meu olhar protector, ter sempre o colo pronto para ti, ter sempre as palavras que precisas ouvir, ter sempre o coração aberto para te amar mais, mas deixando-te ser também do mundo. Tu és livre. Tu podes Ser. E eu quero ser a mãe que te deixa descobrir quem és, que te guia, mas que te amará sempre, da mesma forma, aceitando que és livre.

Obrigada por me ensinares diariamente o que é amar incondicionalmente. O amor mais desafiante e que precisa ser aprendido diariamente.