Sim, eu adoro estar em casa com a minha filha a tempo inteiro.

Sim, foi uma escolha minha e nunca me arrependi.

Sim, eu já disse várias vezes que foi o melhor que me aconteceu e que não troco isto por nada no mundo!

Mas, caramba, estou cansada! Não é cansada dela, nada disso. Estou cansada da casa, das obrigações, da roupa por passar, dos estendais cheios de roupa todos os dias! Nunca acaba a roupa para lavar, N-U-N-C-A. Confesso, nunca fui grande cozinheira, nem nunca nutri uma paixão por essa divisão. Mas estar em casa a tempo inteiro obriga-me a cozinhar. Pior, obriga-me a cozinhar bem e saudável. Os meus filhos são fáceis, se eu passar o dia a dar-lhes atenção, a brincar com eles, a dar colo, a dar mama, a dormir com eles, a cantar, a rir, a correr, a passear a rua, a entrar para o banho com eles, a comer sem pressas e sem arrumar nada, a ver os desenhos animados preferidos, a ler histórias, a fazer plasticina, a dar mais colo… se eu estiver ali com eles, estar mesmo, estar presente, envolver-me, ouvi-los com atenção, responder-lhes a todas as necessidades. Se eu fizer isso, é tudo tão simples.

Ela não tem culpa. Não tem culpa que precisemos de comer, no mínimo, 4 vezes por dia. Não tem culpa que eu precise de lhe preparar o almoço e de limpar e arrumar as coisas porque se estragam com o calor. Não entende que eu só queria não deixar a loiça toda espalhada, só precisava de 10 minutos para deixar a cozinha mais ou menos. Mas ela não percebe isso. Deixo uma máquina a lavar durante a manhã e, quando os deito à noite, a roupa ainda está lá dentro, porque a roupa já se habituou a esperar, mas ela ainda não. Hoje ela não tinha nenhuma t-shirt para vestir e lá tive eu que passar qualquer coisa rapidamente no caos da manhã. Tenho alguns planos, organizar roupa no sótão para dar, retirar da gaveta o que já não lhes serve, organizar a caixa das fraldas, separar brinquedos que já não usam, mas não consigo. Ainda bem que existem os smart phones, porque assim ainda vou conseguindo manter o blog, já que estou longas horas com ela a dormir no meu colo.

Não faço nada, tudo espera por mim, ela ainda não sabe esperar. Não vou mentir, por muito que eu saiba que é natural, por muito que seja esta a vida que escolhi e que me faz sentido, há dias em que fico frustrada.

Só preciso de uns minutos. Só queria terminar de dobrar a roupa, fazer umas bolachas saudáveis e adiantar o jantar, mas em vez disso, estou há 1 hora deitada com ela. Porque ela só dorme assim, porque eu tento deitá-la e ela acorda e eu não sei outra forma de lhe mostrar que eu não vou a lado nenhum, eu estou sempre aqui.

Fica tudo à minha espera, enquanto ela não souber fazer isso. E eu aprendi a acalmar-me enquanto a olho a dormir, aprendi a fechar os olhos para a confusão, enquanto me foco nela. Depois chega o irmão mais velho, traz tanta alegria e mais caos. Chega a hora dos banhos, da água pelo chão da casa de banho e da cozinha que fica em banho maria. Eles adormecem e eu estou demasiado cansada para pensar. Fica tudo por fazer, faço planos para o dia seguinte. Provavelmente, planos que não vou conseguir cumprir.

Não são eles que são difíceis e exigem demasiado de mim. Sou eu. São as coisas à minha volta. São os outros.