Lembro-me de sermos apenas nós dois. Sozinhos. Mas agora quase tenho de fazer um esforço para recordar. As imagens, as lembranças, os beijos na praia, as mãos dadas, os filmes, os segredos, as loucuras, os jantares, o mundo através da janela de um avião, tudo isso começa a desvanecer-as. Encontro fotografias nossas, estamos sozinhos. Fecho os olhos para tentar reviver esses dias. Parecem tão distantes, apesar de ainda não ter passado uma mão cheia de anos. As preocupações eram outras, agora parecem minúsculas, talvez seja da distância. Os planos, as prioridades, os desejos, tudo tão longe do presente que vivemos. Estamos mais ligados do que nunca , mas as nossas mãos mal se tocam com tempo. Somos mais felizes e ambos sabemos isso. Mas nem sempre é fácil. Os nossos corações eram apenas dois e agora são quatro. Batem em uníssono. As nossas mãos estão sempre dadas, mas são dedos mais pequeninos que sentimos. Os beijos são mais rápidos, as viagens são mais cansativas, os jantares são mais barulhentos e já não são nos mesmos lugares. Dizem que a vida não muda depois dos filhos. Claro que muda. Só faz sentido se mudar. O nosso olhar já não está sempre cruzado, existem bons motivos para o desviarmos. Passou um vendaval pela nossa vida, trouxe vida, caos, noites por dormir, rotinas novas, algumas dores de cabeça e amor, muito amor desconhecido.

Um dia voltaremos a estar mais próximos, a nossa cama ficará mais vazia, as nossas mãos vão estar novamente dadas, o tempo será outra vez apenas nosso. Mas eu sei, sei que vai ser duro. Sei que sentiremos saudades os dois, em conjunto.