Preciso de mais tempo. Às vezes, desejava que o dia tivesse mais horas, mas depois lembro-me que também não aguentava se assim fosse. Sim, tenho sonhos, tenho alguns projetos em mente, tenho planos, muitos planos para mim e para o blog. Mas nem sempre tenho o tempo que precisava. Muitas vezes, deixo pessoas que gosto mais de lado, não consigo acompanhar tudo e todos como antes fazia. Não chego a todos os lugares. Nem sempre respondo a todas as mensagens. Nem sempre ligo aos amigos que antes ligava. Sinto, muitas vezes, que faço os mínimos, mas que continuo a prestar máxima atenção a quem mais precisa de mim.

Mas não, a solução não era a minha filha ir para a creche. A minha filha tem 13 meses. Não, ela não está a ficar para trás (que enorme disparate), não ela não precisava de ser estimulada e de aprender coisas novas, não ela não precisa assim tanto de conviver com mais bebés, não ela ainda não precisa de andar na escola. Esta sociedade e a pressa. A ansiedade de ensinar. A vontade de os ver crescer. A minha filha tem 1 ano e as pessoas acham que eles na creche aprendem coisas. Talvez aprendam. Mas nesta idade, garantidamente, a melhor aprendizagem é feita ao lado da mãe, ao lado de uma avó, em casa, em contacto permanente com a família, com todo o colo que precisam, com toda a atenção. Se a creche pode ser boa? Claro, especialmente se não temos outra hipótese. Mas o melhor lugar, nestes primeiros 2 ou 3 anos de vida, nunca será lá. Não há nada que ela precise. Não vai saber absolutamente nada a menos do que uma criança que vai para a creche com 5 meses. Pelo contrário, poderá ser mais segura, mais independente, mais confiante no futuro. Porque a base deles forma-se no colo, de mãos dadas com os pais.

Se eu preciso de mais tempo? Sim, preciso. Precisava de alguém que me limpasse a casa uma vez por semana (ou várias). Precisava que alguém me deixasse o nosso almoço pronto e que nos adiantasse o jantar. De alguém que tratasse da louça. Precisava que alguém fosse colocando a roupa para lavar, a estendesse, a apanhasse, a passasse e a arrumasse nos armários. Precisava que alguém fosse limpando o chão da cozinha que precisa ser lavado todos os dias. Que alguém apanhasse os brinquedos do chão. Que alguém fosse às compras de vez em quando.

Não é a minha filha que me rouba tempo. Nunca. O resto das obrigações sim. Eu fiquei em casa com ela, para ela, por ela. Nunca pela casa ou para ser doméstica. Isso vem por acréscimo, porque passando mais tempo em casa, a casa precisa de ser mais vezes limpa. Porque abdicando do meu trabalho, precisei de abdicar da ajuda na limpeza. Porque estando em casa, acabo por ver os brinquedos espalhados e a roupa que já secou. Porque estando em casa, precisamos almoçar aqui todos os dias e preparar mais refeições. A minha prioridade é a minha filha, as horas com ela, vê-la crescer, levá-la para a rua, sentar-me no chão a brincar, adormecê-la, amamentar as vezes todas que ela precisa, ir com ela à música, levá-la a encontros com outros meninos. E estando só com ela, eu consigo ter outros sonhos, consigo escrever no blog, consigo ter outros projetos. O que não me deixa fazê-lo são as sestas dela em que eu aproveito para limpar. São as distracções dela que eu aproveito para passar a ferro.

Por isso, se queres sugerir como eu posso ter mais tempo, se achas tão fundamental opinar que ela já não devia estar em casa porque eu teria mais tempo e porque ela precisa sabe-se lá do quê, então eu também tenho uma sugestão: vem cá a casa e traz comida, vem cá a casa e ajuda a limpar, vem cá a casa levar roupa e traz passada a ferro…e assim, eu não precisarei de mais tempo e posso ser livre para fazer o que me motivou a ficar em casa. Ter tempo para os meus filhos e não deixar estes primeiros anos serem aproveitados por outra pessoa. Precisava de mais tempo, mas não era longe deles.

 

Foto Cátia Teodoro Fotografia