Tu não compreendes, filha. Quando eu te digo que preciso de dormir, eu não penso em mim. Eu gostava de ser melhor mãe sabes? Gostava de ter mais energia, de ter mais força, gostava de me conseguir lembrar das coisas de vez em quando. Eu preciso de dormir. Tu também, e tu és a minha prioridade. Vejo-te descansar e parte de mim fica melhor. Mas o sono, o cansaço extremo, esses não desaparecem.

Nunca me custaram as tuas noites até agora. Estamos numa fase dura. Nunca dormiste muito, mas eu sabia que fazia parte, conseguia descansar de dia contigo, conseguia dormir noutras horas…eu dei-nos tempo, deixei a casa para trás, aproveitei o colo, as tardes lentas. Mas tu agora já não passas o dia assim. Tu acordas com energia, com vontade de aprender, acordas e queres caminhar pela casa, mexer em tudo, explorar, ver mais do mundo. Precisas de mim para te acompanhar e eu sinto que não tenho forças. Estás a dormir há 30 minutos no sofá ao meu lado e eu estou apenas a olhar para o tecto. Tenho a cozinha por arrumar, preciso adiantar o teu almoço e pensar no teu lanche. Gostava de ter saído contigo, estamos há 2 dias fechadas em casa. A tua festa de aniversário é daqui a uns dias e eu precisava de mais 1 mês para ter alguma coisa preparada. Não falo com as minhas amigas, aquelas de sempre, e sinto que deixo a vida ficar para trás. Não quero sequer cruzar-me com o espelho hoje, não tenho vontade de ler as palavras que normalmente me animam, hoje tenho sono. Muito sono. Hoje, pela primeira vez, desejei ir trabalhar de manhã, porque sei que seria mais fácil aguentar o dia.

Tenho sono. Não dormi 2 horas esta noite. Podia dizer quantas vezes amamentei, mas seria mais fácil contabilizar os minutos que não mamaste. Não tens culpa, eu sei.

Desculpa queixar-me. Amanhã será um novo dia, mas hoje custa. Custa não ser a mãe que podia ser. Custa-me estar parada no sofá.