Está tudo em nós. As mães são verdadeiras heroínas, ainda dizem que os super heróis não existem.

Temos tudo. Tudo o que um bebé precisa. Conseguimos fazer crescer uma vida no nosso ventre (sou só eu que fico abismada com esse facto várias vezes por dia?). Às vezes ando em arrumações, passo em frente ao espelho no quarto e vejo este barrigão reflectido. Sou eu no espelho, mas sou eu com um bebé dentro de mim. Uma bebé de quase 3kg, que tem vida, que em breve estará aqui.

Como se gerar uma vida não fosse já acto heróico suficiente, conseguimos colocar esse ser humano cá fora. Somos nós, com a nossa coragem, garra, com o nosso corpo. Somos nós enquanto mãe animal num dos maiores actos da nossa vida.

Depois de tudo isto, podemos alimentar o nosso filho só com recurso ao nosso corpo. Um corpo que é capaz de produzir um alimento único para o nosso filho. Que se adapta. Que se transforma. Um alimento verdadeiramente vivo.

O nosso corpo pode proteger, embalar, adormecer, alimentar, cuidar, sossegar, mimar, amar. Se pensarmos que o nosso bebé tem tudo o que precisa no nosso corpo, digam lá que não estamos perante poderes de super herói?

As mães conseguem sobreviver a quase tudo pelos filhos. Conseguem saber o que sentem apenas com um olhar. Sabem o cheiro do seu bebé de cor, e sabem traçar o seu rosto de olhos fechados. Uma mãe conhece o seu filho como nunca ninguém irá conhecer. As mães lutam sem fim quando os filhos enfrentam batalhas. As mães cuidam das feridas, dão a vida por eles se puderem.

Os lábios das mães dão os beijos que sossegam mais rápido, medem a temperatura, curam dói-dóis. Os olhos da mãe acalmam, fazem sorrir de imediato o bebé quando os seus olhares se cruzam. Os olhos da mãe vêem tudo e conseguem esconder o que quiserem. Os olhos da mãe encontram o filho em multidões, descobrem os caminhos que mais ninguém vê.

A voz das mães embala o sono mais profundo, sara o coração mais magoado. A voz da mãe consegue fazer bracinhos minúsculos de bebé esvoaçarem de alegria para que lhes peguem ao colo. A voz da mãe faz sorrir, acalma, faz seguir em frente.

As mães conseguem não dormir. Conseguem esquecer dores. São capazes de ultrapassar os limites humanos sem que ninguém se aperceba.

Então porque tratamos tão mal as mães? Porque não as tratamos como super heróis que são? Porque insistimos em arranjar soluções extra como se as mães não fossem capazes? Porque continuamos a desprezar a gravidez dizendo que essa mãe deve fazer tudo sem reclamar porque “gravidez não é doença”? Porque continuamos a dizer às mães que não conseguem parir, que não é seguro, que o seu corpo não chega? Porque dizemos às mães que o leite não chega, que o leite é fraco? Porque culpabilizamos as mães façam elas o que fizerem? Porque criticamos as mães que não trabalham e as que trabalham? Porque lhes exigimos tanto? Porque é que lhes ralhamos quando dão demasiado colo? Porque lhes dizemos o que fazer a toda a hora? Porque lhes arranjamos tantos gadgets para cuidar dos filhos? Porque estamos sempre a repreender a mãe demasiado compreensiva? Porque não a tratamos como super herói que é?

Hoje conheci a mais um relato de violência obstétrica. Uma mãe que foi mal tratada durante um momento tão importante. Uma mãe a quem gritaram e a quem trataram como incapaz. Hoje abri os olhos e em segundos consegui ler vários testemunhos de mães que não sabem o que fazer, que têm medo de dar colo a mais, que sentem culpa por não amamentar ou culpa porque o bebé tem fome.

Se acham que os super heróis só existem nos filmes, então abram os olhos e olhem à volta. Temos tantos pais super heróis por aí. Se queriam que os super poderes fossem reais, então ajudem os pais a acreditar que os têm.

Porque temos. Basta acreditar.