Ficar em casa com a minha filha, não foi uma decisão fácil. Parece simples, de tanto sentido que faz. Mas não. Implicou muitas mudanças. Na nossa vida, nas nossas escolhas, no nosso orçamento, nas nossas rotinas. Mas essas não são as maiores mudanças. As grandes alterações são as nossas. Dentro de nós. Somos nós que temos que mudar, que temos que nos adaptar.

Eu não saio de manhã apressada. Não tenho objetivos profissionais. Não converso sobre outros temas a não ser sobre os meus filhos. Não tomo café com os colegas como sempre adorei. Tomo café sozinha, no meu sofá. Converso com a Laura e ela responde-me numa linguagem nossa. Não almoço a correr, por entre risadas e conversas mais, ou menos, sérias. Almoço, muitas vezes, calada, enquanto vejo a Laura comer. Não viajo em trabalho e conheço lugares e pessoas novas como fazia antes. Viajo apenas dentro da nossa casa, com uma imaginação que eu não sabia que tinha. Aquilo que ganhava, nunca será nada ao lado do que agora ganho todos os dias ao lado dos meus filhos.

Mas, há sempre um outro lado. Aquele que me diz que quero que eles sintam orgulho no que eu faço. Talvez não queiram uma mãe que está em casa. Faço tudo isto por eles, mas talvez eles valorizassem mais outras escolhas.

O Gui hoje disse que quando fosse grande, queria ter o trabalho do pai. Ser como o pai.

Depois fez-me a pergunta.

O que queres ser quando fores grande, mãe?

E eu disse que queria ser a mãe deles. Mas ele disse que não. Disse para eu dizer uma profissão.

Mas eu não sei. Não sei se algum dia seria capaz de deixar de ter tempo livre para eles, não depois de saber o que ganho assim. Mas também não seria capaz de nunca mais ter a minha própria vida, os meus sonhos e objetivos.

Está na hora. Chegou a altura de começar a pensar o que quero ser quando for grande. Essa decisão tão difícil.