Quando eles ficam doentes, muito doentes, quando nos deparamos com um cenário com o qual não contávamos, quando nos dizem que o nosso filho corre perigo, tudo o resto deixa de ser importante. Os dias menos bons, as birras normais das crianças, os gritos no final do dia quando nos dói tanto a cabeça, as exigências, os pedidos constantes, as 500 mil vezes que eles nos chamam para nos mostrar qualquer coisa, as noites mal dormidas, a comida espalhada pelo chão da cozinha, o cansaço acumulado, os brinquedos espalhados sempre por arrumar, as nódoas de ranho no nosso ombro, as bolachas esmigalhadas no fundo da carteira, os colos permanentes, os disparates típicos da idade…tudo nos parece tão bom, tão real, porque é quando sabemos que eles estão realmente bem, cheios de vida, que a nossa casa está cheia de problemas banais e que apenas nos recordam que temos os nossos filhos por perto. Todos os dias me chateio menos com as coisas menores, ou tento. Evito estar sempre a dizer não. Evito zangar-me por coisas tão pequenas. Não os castigo. Não espero ganhar sempre, porque não preciso disso para que me respeitem. Não fico feliz por estar a implicar com eles e a forçá-los a serem quem não são, não me escondo atrás de desculpas como “precisam de aprender a obedecer, precisam de ser educados”. No outro dia partilhei um vídeo do Gui a argumentar para não calçar as botas e alguém comentou que eles precisam ser educados e ter limites e que os pais precisam ganhar para eles perceberem. Não consigo concordar. Não quer dizer que eu esteja mais correcta, que os meus filhos venham a ser melhores ou mais educados, não quer dizer que este seja o caminho certo. Mas é a forma que eu quero viver a maternidade, o tempo ao lado deles! Eles são pessoas, têm a sua personalidade, e eu acho que nós adultos perdemos demasiado tempo a tentar moldar as crianças, perdemos tanto que acabamos por nem viver ao máximo estas fases deliciosas deles, os argumentos, as histórias, as vontades que eles ainda expressam sem qualquer filtro. A mim interessa-me que eles sintam empatia pelos outros, que eles sejam amados para que saibam amar, que nunca duvidem do que sentimos por eles, mesmo quando falham, especialmente quando falham. Quando eles ficam doentes, quando a vida nos prega partidas, é quando nos lembramos que isto passa tudo demasiado rápido e que a verdade é que “com saúde tudo se faz”.

E desta vez a vida lembrou-nos disto mesmo em cima do Natal. Agora o Natal terá ainda mais sabor. Mais valor. Será ainda mais especial. Porque eles são tudo o que importa na nossa vida. Que se lixem as noites mal dormidas, que se lixem as prendas, a falta de dinheiro, que se lixe o cansaço! Eles estão bem, nada mais importa.

Este Natal ofereçam aos vossos filhos mais amor, mais compreensão, mais paciência, mais tempo, mais respeito. Aproveitem mais. Vivam mais. Deliciem-se com os disparates destas idades tão inocentes. Tudo o que eles precisam é disso. E tudo o que nós precisamos é de os ver bem.