Quando engravidei da Laura comecei a ouvir as frases típicas vindas de várias direcções.

“Já? Mas o Gui ainda é tão pequenino?”

“Fizeram muito bem, com pouca diferença é muito mais fácil”

“Cuidado com os ciúmes, o mais velho precisa de mais atenção”

“Vai ser difícil” 

“Metam o mais velho a ajudar, eles gostam” 

“O mais velho ainda dorme com vocês? Ui, vai ser impossível” 

“O mais velho vai regredir e querer coisas de bebé” 

E por aí fora. Como bem sabemos, tudo isto são teorias baseadas nas experiências de outras pessoas e que vão sendo passadas de boca em boca. Muitas vezes, quando dizemos coisas destas, nem estamos bem a pensar nelas, dizemos apenas porque sempre as ouvimos.

A verdade é que isto de ter mais que um filho é algo que é diferente em todas as famílias e que está sempre a mudar ao longo do tempo, eu que o diga.

Deixo-vos 10 dicas que funcionam cá em casa:

  • Expliquem sempre tudo ao vosso filho mais velho

No início, algumas pessoas disseram para não contarmos de imediato ao Gui que eu estava grávida. No dia em que vi o teste positivo, pegámos no Gui e ficámos ali uns minutos a saltar e a dizer que ele ia ter um mano ou mana! Ele nesse dia pouco ou nada percebeu, mas eu acho que com ele funciona explicar tudo e dizer toda a verdade, sempre assim foi. Ele foi a todas as ecografias e acompanhou tudo. Quando nos perguntavam se ele entendia e que ainda era cedo, nós não concordávamos, porque ele percebia bastante bem. Foi sempre falando nisso, e no dia do parto sabia exactamente o que se estava a passar.

  • Digam sempre ao mais velho o que pode esperar de um bebé 

Os bebés dormem, mamam e sujam fraldas, pouco mais. Convém deixar isto muito claro ao mais velho para que não se venha a desiludir. Nós dissemos isto cá em casa, mas a verdade é que toda a gente lhe dizia “vais ter uma mana para brincar contigo, tão bom!”. Quando ela nasceu, eu percebi que as expectativas dele eram essas, e ficou um pouco confuso quando nos pediu para a metermos no chão para ela brincar com ele e lhe explicámos que ela ainda é bebé.

  • Quando se aproximar a data do parto, conversem sobre o que vai acontecer nesse dia

Para nós foi importante explicar que em princípio ele ficaria com os avós, que eles viriam para cá para dormir com ele, que o pai iria ficar no hospital comigo para ajudar e que se tudo corresse bem, viríamos rápido para casa. Ele foi connosco visitar a maternidade na Póvoa, viu o sítio, explicámos que era ali que íamos ficar. No dia em que o levámos de manhã até os meus pais chegarem, ele próprio ia a descrever o que se iria passar.

  • Não tentar compensar demasiado 

Quando a Laura nasceu, tudo parecia estar bem, o Gui estava eufórico, um pouco acelerado mas feliz, e não demonstrava muitos ciúmes. Mas eu, obviamente, estava preocupada com ele, queria reaproximar-me e estar mais com ele após 2 noites fora de casa. O meu erro durante um dia ou dois foi tentar compensar demasiado, tinha medo que ele tivesse ciúmes e evitava estar demasiado afectiva com a Laura quando ele estava e depois tentava por tudo que ele estivesse bem comigo. Eles sentem estas coisas e ficam mais inseguros, na minha opinião. Pelo menos o Gui fica. Percebi rápido que estava a agir mal. Desde aí, agimos com naturalidade, explico que amo os dois por igual, quando estou com ele, relembro sempre o quanto gosto dele, mas sou natural, tento agir como sempre agi, chamar a atenção igual, recusar algumas coisas, deixar de o agradar digamos. Ele ficou muito melhor, acho que sentiu que tudo na vida dele se mantinha igual.

  • Envolvê-lo nas tarefas sim, mas esperar que ele ajude não

O que quer isto dizer? Sempre li e ouvi que devemos envolver o mais velho nas novas rotinas e tarefas com o bebé para ele se sentir parte. Mas isto depende muito de como é o vosso filho mais velho. Eu pergunto sempre ao Gui se quer fazer as coisas e, muitas vezes, ele simplesmente não quer, prefere ficar a brincar. Ele deu o primeiro banho connosco, gosta de ajudar a mudar fraldas quando lhe apetece, às vezes, peço para me ir buscar qualquer coisa, mas tento sempre que ele não sinta que tem essa obrigação apenas porque é mais crescido. Ele gosta de ajudar em tudo, e se ele me pergunta o que fazer eu digo, caso contrário, deixo-o manter a rotina dele, prefiro deixá-lo a brincar ou a ver um desenho animado enquanto dou o banho a Laura, do que estar à espera que ele goste de o fazer. Se o mais velho adora estar a colaborar óptimo, mas não criem essa expectativa.

  • “És o irmão mais velho,…”

Sei que ainda é cedo para percebermos se vamos ou não usar essa frase. Para já, temos sempre o cuidado de não o fazer. Evitamos ao máximo dizer que ele, sendo o mais velho, tem obrigação de ser mais responsável ou que é mais velho não se pode portar de x maneira, e por aí fora. Às vezes temos visitas que dizem “agora és o mais velho, tens que cuidar da mana”, “és o mais velho, não podes fazer birras, já és tão crescido, olha a mana a portar tão bem”. E eu não me controlo e interfiro logo. Sei que existirão sempre comparações, mas enquanto puder, farei tudo para as evitar. Ele tem a idade dele e tem direito a fazer as coisas de acordo com isso, se lhe digo que podia não agir de uma determinada forma, tenho sempre o cuidado de explicar porquê, mas nunca envolvo a irmã nisso. Cada um tem a sua idade, e não é porque passa a ter um irmão que deve, de repente, ser o mais velho e que devemos esperar outro tipo de comportamento da parte dele.

  • Nunca justificar com “por causa do bebé”

Esforçamo-nos muito para não usar a justificação “não podes fazer isto por causa da mana”. Por exemplo, se ele está a gritar ou a fazer barulho e vai acordar a Laura, tento arranjar forma de ele abrandar, ou então se tenho mesmo que lhe dizer que é porque ela dorme, tenho o cuidado de rematar com “depois se ela acorda, já não posso estar aqui a brincar contigo, tenho que ir pegar nela”, resulta quase sempre. Às vezes, nem nos apercebemos que somos nós que transformamos o bebé em algo que veio para atrapalhar a vida dos mais velhos. “Não podes correr que acordas a mana”, “não podemos ir à rua porque a mana é pequena”, “cuidado com a mana” por aí fora. Mesmo durante a gravidez, arranjei sempre forma de justificar coisas que não podia fazer com ele evitando usar “a mãe está grávida não pode isto ou aquilo”. Quando eu andava com ele   ao colo, havia sempre alguém que lhe dizia “não podes andar ao colo, agora a mãe não pode porque tem lá a mana”. Isso irritava-me tanto, e explicava logo que não era nada disso. Se não lhe podia pegar, tinha o cuidado de dizer que era porque estava cansada, ou porque a barriga estava enorme e eu não me me mexia bem, mas usava sempre “eu”, o motivo sou eu, não o bebé.

  • Mostrar fotos e vídeos do mais velho em bebé 

Quando estava grávida comecei a mostrar ao Gui as fotos e vídeos dele em bebé, expliquei que a mana seria assim também. Mostrei fotografias dele a ser amamentado, a tomar banho, muitas fotos dele ao colo. Ainda hoje, quando é preciso, lhe mostro e ele sente-se bem, percebe que fizemos exatamente o mesmo com ele.

  • Passar algum tempo com ele sozinho 

Tenho algumas dúvidas em relação a este ponto. Para já, eu noto que ele gosta quando eu ou o pai fazemos alguma coisa sozinhos com ele. Ou o levo eu à creche e paramos em qualquer lado. Ou o pai vai andar de bicicleta com ele, coisas assim. Se acho que isso é bom, porque ele tem o tempo dele e pode falar e ter a nossa atenção a 100%, por outro lado acho importante que ele perceba que a irmã está na nossa vida e que está ali sempre.

  • Muita paciência e mente aberta 

Acima de tudo, temos precisado de muitas doses de paciência! Especialmente para compreender o Gui, porque além de ele estar numa fase mais exigente, a vida dele mudou com a vinda da irmã e é preciso compreender como ele se sente. O desafio é que tudo muda a cada semana que passa, quando já temos tudo controlado, aí vem mais uma novidade qualquer.

São apenas 10 dicas, mas poderiam ser 100. Nenhum filho é igual, nenhuma família, nenhuma dinâmica familiar. Podem partilhar as vossas. A maternidade também é isto, um desafio constante, daqueles que já não nos imaginamos a viver sem.