Adoro ser mãe. Acho que nasci para ser mãe. Há muito tempo que sou apenas mãe e tenho ouvido de várias direcções que não pode ser assim. Há mais na vida do que isto. 

E eu concordo. Acho que além de mães, somos mulheres, amigas, exercemos uma qualquer profissão, temos sonhos, hobbies, interesses próprios. Concordo que todas as mães devem ter também a sua vida, tempo para si próprias, tempo sozinhas. Concordo que as mães devem viver os seus sonhos, ter objectivos, ambições. Concordo que as mães devem sair, rir com amigos, falar de assuntos que não incluam apenas fraldas e noites mal dormidas. Concordo que as mães devem ser capazes de ter conversas sem ser no meio de gritos, chamadas de atenção e alguma comida pelo ar. Concordo que as mães devem tratar de si mesmas, ir ao ginásio, arranjar as unhas ou receber uma boa massagem. Concordo que as mães devem poder ir ao cinema com os pais, dar as mãos sem correrias e trocar palavras calmas sem ser apenas gritar horários e instruções. Concordo que as mães devem poder assistir a séries que gostam sem que fiquem semanas a cantarolar mentalmente mais uma música daquela miúda do canal panda! Concordo que as mães devem ser mais do que mães. 

Concordo, mas não sou capaz. Não sei que voltas dou, não sei se sou apenas eu ou mais mães por esse mundo fora, mas o meu tempo encolheu. O meu dia é uma correria entre euforias matinais, correrias pela casa, tentativas para que que entre mais que uma migalha de pão naquele estômago. Muitas horas de amamentação e colo, fraldas e colo, banhos e colo. Almoços rápidos, compras sempre por fazer, refeições desorganizadas, casa desarrumada. Eu sei, sei que me podia organizar melhor, fico de boca aberta ao ler alguns blogs e ver a quantidade incrível de coisas que conseguem fazer, preparar as refeições todas para a semana, agendar tudo, ter tudo programado, acordar cedo e antes dos miúdos, ter tudo arrumado. Cá por casa isso não acontece. Ou melhor, acontece muitas vezes, mas na semana seguinte já estamos a falhar. O meu plano de acordar cedo vai por água abaixo algures entre as 3h da manhã quando já dei de mamar 3 vezes e ainda me esperam umas quantas. Ou quando ele chamou porque teve pesadelos, porque quer fazer xixi ou porque tem sede. Acabo na cama de manhã, com um de cada lado, enquanto o pai toma um duche e prepara o pequeno-almoço. Entretanto já são 10h e ainda ele não está na creche. O pai já se atrasou. Quando dou conta já é hora de almoçar. A roupa ainda não está passada. Temos ajuda na limpeza, mas no dia seguinte de manhã já acho que ninguém cá veio limpar porque já está tudo caótico. O dia passa a correr e já estamos novamente a pensar no jantar. Chego a ficar irritada com tantas refeições e só penso que podia existir uma ração qualquer para deixarmos de perder tanto tempo na cozinha. Quando dou conta já são horas de ir dormir, deito-a primeiro a ela, muitas vezes a ele depois, ultimamente sempre. 

Quero a mãe!

É a frase que mais se ouve por aqui. E eu sinto-me a ser puxada em todas as direcções. Desde que acordo até me deitar, sou apenas mãe. Sinto que ainda não chegou a minha hora de fazer mais que isso, de ver um filme, de falar de outros assuntos, de me olhar novamente ao espelho e sentir-me eu. 

Ainda não chegou esse dia, mas às vezes precisava apenas de 5 minutos. Mas eles precisam mais de mim. Precisam da mãe.