Pensei muitas vezes em omitir esta categoria do blogue. O meu marido, mesmo antes do blogue, sempre me disse que eu devia escrever sobre o que me irrita, brinca muitas vezes comigo a dizer, lá vem o “irrita-me”. Tento controlar-me, juro, mas há mesmo coisas que me tiram do sério. Prometo que esta categoria vai aparecer poucas vezes por aqui, trago-vos só o lado mais bonito da nossa vida. Mas há dias que não me controlo.
Irritam-me as pessoas que se metem na vida dos outros. Não, não são vocês leitores, até porque eu exponho-vos a minha vida, logo, dou-vos abertura para se meterem nela à vontade. Agora, pessoas que eu não conheço de lado nenhum, pessoas que encontro nas ruas, com quem me cruzo na fila do hipermercado, ou na mesa ao lado do café, o que é que essas pessoas sabem sobre mim e o meu filho?
Passo a explicar. O Gui tem quase 2 anos e usa chupeta. Se calhar, muitos de vocês vão achar que realmente estava na hora de a largar, que está mal habituado, que vai ter dentes tortos, ou atrasar-lhe a linguagem. Antes de mais, ele fala pelos cotovelos, não há uma palavra que não diga e quando está comigo não está calado 30 segundos, por isso, não foi por aí. Dentes tortos? Talvez! A verdade é que agora não há miúdo que não use aparelho, eu própria usei. Quando lá chegar, penso nisso.
Ora vamos lá ver, fui eu que lhe dei uma chupeta para a boca, não foi ele do alto dos seus 3 dias de vida que agarrou nela e a enfiou. Fomos nós, enquanto pais. Se hoje dava de novo? Não sei, penso que não, mas a vida já me disse que só passando por eles sei! A chupeta ajudou a acalmar, não mais do que o colo e maminha, que é tudo o que precisam quando nascem. E fomos nós, pais, que tomámos a decisão de lhe dar uma chupeta, fomos nós que o habituámos a ela. Mas isso não nos dá o direito de chegar retirar-lhe a chupeta do nada só porque já tem 2 anos.
“Olha filho, tens 2 anos, passa para cá a chupeta e fica aí a chorar!”
Eu sei que há quem o faça, quem sou eu para julgar. Já li, mesmo em blogues famosos, histórias de dureza extrema tipo “tirei a chupeta, tem que ser, passou umas noites a gemer e a choramingar, mas é para o bem dela”. Eu seria incapaz, felizmente! É tão válido como dizer, levou uma palmada para o bem dele, dorme no quarto dele para o bem dele…etc etc. Para o bem dele nada! Esse argumento tira-me do sério. Deixar um filho a chorar horas a fio, a sofrer, não é para o bem dele! A não ser que ele esteja doente e tenha que ser sujeito a tratamentos, ou coisas graves, acho que em entendem. E ainda assim, o meu coração morreria por dentro.
O Gui na creche não usa quase a chupeta. Chega de manhã e entrega a chupeta sem problemas, usa-a para dormir. Em casa tem dias, coisa que não me chateia nada. Às vezes ele pede e eu digo que agora está a brincar, que não precisa ainda dela e ele vai na boa. Agora, se ele estiver a pedir, se chorar, claro que lhe dou. Não compro choro do meu filho, evito-o. Eles têm tempo! Nunca vi um adulto de chupeta.
Mas independente da minha opinião, voltemos ao que me irrita. Nos últimos meses tenho sido abordada por gente anónima na rua. No início, meio acanhada, ainda respondia, ou tentava aligeirar, ou dizia aquelas coisas “Gui diz que sim, que um dia logo deixas a pêpê“. Mas agora já não. Agora passo por muito mal educada. Basicamente, o que faço é ignorar que aquela pessoa está sequer a falar com o meu filho, continuo a minha vida, continuo a falar com o Gui e não dou asas. Eu sei, devia controlar-me, mas se essa pessoa se acha no direito de falar para o meu filho e dizer coisas que se lembra, sem nos conhecer, sendo mal educada ela também, eu tenho o direito de ignorar a situação para não ter que a meter no lugar. Aconteceu ontem, na fila do hipermercado.
O que tenho ouvido:
Tão grande de chupeta? Tira a chupeta, pareces um bebé!
És FEIO de chupeta!
Dá cá a tua chupeta. Uma das senhoras TIROU-LHE a chupeta da boca e escondeu atrás das costas com o Gui a chorar!!!!
Assim és um bebé e a mamã não gosta mais de ti, tens que deitar a chupeta fora!
A chupeta tem bichos e vão comer-te a língua se não a largares!
… e por aí fora! não varia muito, é sempre na base do já és crescido e ficas feio.
Eu digo sempre, alto e bom som, que não, que claro que não é feio, falo para ele directamente.
Será isto normal? Eu sei, muito disto nem é por mal, estamos assim formatados, dizemos com a maior facilidade do mundo, por tudo e nada, “assim és feio”. Pensem bem nisto antes de o dizerem aos vossos filhos ou a filhos dos outros. Acham que é uma boa mensagem que estamos a passar a uma criança, dizer que é feia porque tem um determinado comportamento? Que conceitos estamos a criar na cabeça deles? Que só são bonitos a fazer bem, que só são bonitos sem chupeta, que só gostamos deles se forem como queremos que sejam?
Irrita-me! Tenho dito.
Já agora, podem ler aqui um texto fantástico da Eu, ele, a Maria e o Miguel – A altura certa
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