No meio de dias bons, algures numas férias, por entre momentos muito bem passados com os filhos, há sempre um dia menos bom, há sempre ali uma falha qualquer, uma birra que não estava nos planos, um choro que não contávamos, e a falta de paciência que não sabíamos que iríamos ter.
Férias são boas. Significam passeios, novos horários, outras pessoas, ritmos diferentes. E, por essa mesma razão, também alteram muitas vezes as crianças que, apesar de felizes, acabam mais cansadas, resultando em birras!
Já vos falei sobre a nossa semana aqui. Foram dias intensos, de adaptação. Tentei sempre que dormissem a sesta, porque acho fundamental tentar manter esse hábito, mas principalmente porque noto que isso ainda influencia imenso o comportamento do Gui. Já confessei, senti-me cansada! Estava esgotada fisicamente e a precisar de dormir, a precisar de um minuto só meu, já que não me lembro de estar sozinha nos últimos meses.
Sim, o Gui é uma criança fácil, está habituado a ir para todo o lado, normalmente, falar com ele resulta, explicar resulta, pedir com calma resulta. Normalmente, ele alinha nas coisas, coopera minimamente e não é o fim do mundo ir com ele para sítios onde muitos pais sentem que existem mais birras. Mas, é também uma criança que fica histérica com alguma facilidade! Gosta de se exibir, se tem audiência então nem se fala, começa a agir de forma louca, dá-lhe para correr, ou para fazer sons ridículos enquanto simula lançar-nos qualquer coisa das mãos, talvez lasers ou teias. Ah, como isso me irrita! Quantas vezes não tenho que me relembrar que ele é APENAS uma criança de 3 anos.
Naquele dia, depois de uma manhã agitada, uma sesta mais curta, decidimos ir à Expofacic a Cantanhede, estava por lá uma exposição de Lego que queríamos muito mostrar ao Gui. Correu tudo super bem, mesmo bem. Até a Laura que nunca tinha saído depois de jantar, estava feliz e desperta. O Gui andou no carrossel, e pela primeira vez adorou mesmo, quis repetir. Comemos amendoins torrados. Vimos alguns animais. Ele saltou nos insufláveis . E quando chegou a exposição de Lego, ele simplesmente delirou, ficou maravilhado! Eu estava cheia de sono, mas até tinha acabado de dizer que tinha valido a pena fugir da rotina e estar ali.
De repente, o pai saiu do lugar e ele quis ir atrás. Começou a correria para lá e para cá. Não ficava com o pai, ria à gargalhada e voltava para mim, e nenhum de nós o apanhava. Isto enquanto a Laura brincava ali no chão com alguns legos. Comecei a perder a paciência. Eu senti mesmo que não estava para aquilo, que não ia permitir. Até que o pai pensou que eu já o tinha apanhado e desapareceu e quando ele correu já não estava lá ninguém. Fui atrás dele, e quanto mais o chamava, bem vocês sabem o que faz um miúdo de 3 anos quando alguém o tenta apanhar: FOGE! Estava toda a gente a olhar para nós, até porque eu já não estava propriamente a falar baixo, ok eu estava a berrar, e ele só se ria. Numa das vezes lá o consigo agarrar e ele atira-se ao chão e não quer vir, sempre a rir, e eu a sentir todos os olhos em nós. Acabei por agarrar no braço dele com alguma violência e arrastá-lo para o banco, sentei-o e disse que íamos embora de imediato. O riso passou a lágrimas e gritos. Nisto tudo, ouço apenas uma mãe a criticar-me, a dizer que eu era violenta, e escandalizada com a minha atitude.
Vim todo o caminho a pensar naquilo. Talvez eu também julgasse uma mãe a quem visse fazer isto. De repente, eu era a pior mãe do mundo, não apenas porque alguém me disse que eu o era, mas porque eu me sentia péssima por não ter lidado com tudo aquilo de outra forma. Só pensava em como tudo muda de um segundo para o outro. Como está tudo tão bem e, de repente, só queríamos não ter saído de casa. Pensei em como quando não conhecemos as pessoas e a vida delas, podemos julgar apenas por um minuto a que assistimos.
Ele não falou mais nisso. Falou apenas nos legos, no que viu, no quanto adorou. Diz sempre que não se foge e tem servido de aviso nestes dias quando ele se lembra de começar a correr. Ele é apenas uma criança de 3 anos. Mas eu lido mal com a preocupação e o perder entre multidões. E lido mal com o sono. Lido mal com o cansaço. Como posso esperar que eles, sendo apenas bebés, não lidem?
O mais frustrante é saber que metade das pessoas estaria a julgar-me por eu não fazer nada e não lhe dar logo ali uma palmada, enquanto a outra metade me julgava por eu ser mais ríspida e menos paciente.
É por isto que ser pai é tão complicado. Não devia ser, só precisamos de ser sempre reais, pais reais, tentar ao máximo sermos coerentes, sermos genuínos, sem nos preocuparmos tanto com quem nos olha de lado,
hoje fui eu, amanhã és tu.
2017-08-10 at 07:03
Uma das coisas piores nisto de ser mãe é exactamente o excrutínio. Não basta estarmos preocupadas com 1001 coisas à nossa volta, a tentar fazer o nosso melhor para lhes dar amor, tempo, afecto, alimentos saudáveis, o melhor que podemos. Mas infelizmente, despercebidamente todos sabemos que estamos a ser observados. Nem só fora de casa! Não, dentro de casa também há “mirones”, os mirones do Facebook, os mirones do Instagram e por aí vai.
Hoje em dia não nos podemos preocupar em ser apenas Mães. Uns dias com mais paciência, outros com menos. Também há dias em que os miúdos precisam de mais rigidez e outros em que são mais “razoáveis” (qb para uma criança pequena) e as coisas fluem.
Para dar um exemplo: a Mariana (5 anos) sempre adorou fugir. Adora correr nos passeios, adora correr em direcção à estrada. Sempre, toda a sua vida. E eu? Eu passo sempre pela mãe marada, louca que anda sempre a correr atrás dela, ou que estava sempre com ela ao colo, ou que lhe gritava cada vez que ela ia em direcção a algum perigo.
Um dia, perto de casa já com a irmã mais nova (3 meses na altura) no sling, a Mariana corre em direcção à estrada e vejo um autocarro a aproximar-se. Óbvio que lhe gritei, corri atrás dela (com a bebé no sling!) agarrei-a, dei-lhe um sermão, fiz-lhe ver que podia ter acontecido algo mesmo, mesmo perigoso. Devia ter sido menos histérica? Não. Eu já sabia que ela não ia parar. Já me tinha acontecido uns meses antes tê-la perdido num evento com 50.000 pessoas. Foram os 30min mais doidos da minha vida.
Nós, que os conhecemos, que vivemos com eles é que sabemos as circunstâncias e como lidar com as situações.
Não é fácil, mas o mais importante nisto de ser Mãe é “fechar as portas aos outros” e viver só com o nosso núcleo.
2017-08-17 at 08:35
Olá Andreia
O único remédio é mesmo ignorar essas pessoas, “nós” gostamos muito de julgar os outros, é muito fácil, emitir juízos de valor com base numa única cena que assistimos sem sequer conhecer as pessoas…
Não se preocupe, se não tivesse feito nada, certamente a outra metade das pessoas diria: “ah ele merecia era isto e aquilo e aquela mãe não faz nada..” Não se pode agradar a todos, o que interessa é estarmos de consciência tranquila..
Catarina
2017-09-07 at 10:50
É por isso que nós, mães, não podemos dar importância ao que os outros pensam ou dizem.
Eu já olhei de lado para mães que gritavam com os filhos ou mostravam impaciência com eles. Quanto mais as crianças gritavam pior eu pensava… das mães.
Até que tive uma filha. E, dois anos depois, outra.
Até que própria terei vivido várias cenas dessas.
Felizmente (e não critico quem é diferente) não me interessa muito o que os outros pensam. Sou um bocadinho imune a isso.
E também já não critico os outros com tanta facilidade. Eu não sei como foi o dia deles, não sei o que se passa. Não posso julgar.
Quantas vezes falei mais alto ou de forma impaciente com a minha filha de 3 anos quando sabia que só com calma é que resolveria bem a questão? Algumas. Não me culpo demasiado. faço o meu melhor todos os dias. Mas, há dias em que estou tão cansada ou mal humorada, que não consigo fazer aquilo que sei ser o melhor. Porque o melhor é mais trabalhoso, exige mais de nós, exige uma presença mental que, muitas vezes, simplesmente não conseguimos ter. E não faz mal. Somos só mães. E mulheres. Não somos seres humanos perfeitos. Mas somos as melhores mães que os nossos filhos podiam ter.
Nunca duvidemos disso.
Um beijinho