Como é que eu sei que eles estão felizes? Pelo riso a toda a hora, porque não param quietos um segundo, não se calam, gritam, estão eufóricos. Vejo nas corridas, nos desafios constantes. Sei que estão felizes pelos arranhões e nódoas negras que contam histórias e aventuras. Vejo na água suja da banheira do final do banho. Sei que estão felizes, quando ao deitá-lo, ele não se cala, de tanto que tem para contar.

Escolhi assim. Escolhi não ficar parada, levá-los à praia, ao parque, andar de bicicleta, visitar outros lugares. Escolhi proporcionar-lhes experiências, ajudá-los a construir memórias boas, mesmo que efectivamente nunca se lembrem de verdade. E é também por isso que eu escrevo, talvez um dia eles gostem de saber que fomos tão felizes, mesmo nos dias em que nem tudo foi perfeito.

A Laura passou o tempo a chamar por mim, a dizer "mamã" da forma mais doce que eu já ouvi, a dizer olá a toda a gente, foi ao mar pela primeira vez, viu pássaros voar e olhou para o céu admirada, brincou muito com o irmão, até roncou a rir. O Gui disse que adorava estar em casa comigo e a mana, disse que a adorava e que ela era uma princesa, pegou-lhe ao colo e arrastou-a um corredor inteiro. Deu-lhe tantos beijos e quase a esmagou. Fez amigos novos, surpreendeu-me por estar tão diferente e crescido. Viu muitos animais e fez centenas de perguntas. Andou de carrossel, comeu gelados, brincou com um cão, riu (também chorou algumas vezes). Apertou-me muito a cara com as duas mãos e disse que estava feliz, que férias eram a melhor coisa do mundo.

Não foram dias fáceis, mas isso fica para outro desabafo. Hoje não quero falar sobre isso, hoje só quero relembrar porque me doem tanto as costas e as pernas e porque sinto o coração tão completo.

Ficam as fotografias do que consigo registar, mas tudo o resto não apanho com a lente, não consigo registar os banhos com os dois, as sestas, as brincadeiras no quarto de brincar, as corridas pela casa, as refeições que fizemos os três, as risadas, as conversas, os abraços, o colo partilhado…