É muito frequente famílias veganas terem de responder a várias questão relativamente às suas escolhas para a alimentação dos filhos. “Obrigas o teu filho a ser vegetariano?”, “E se ele quiser comer carne um dia?”, “E na escola como vai ser?”, “Então e se for a uma festa de anos?”, “Mas  a carne não lhe fará falta agora que está a crescer?”, “E o peixe que faz tão bem, não lhe faz falta?”…

A meu ver, e sendo eu vegana, mãe de um menino vegano desde a concepção, são perguntas legítimas. O desconhecido causa-nos naturalmente estranheza e curiosidade. Não há nada de mal nisso. Além disso, comer produtos de origem animal está tão enraízado na nossa cultura que a grande maioria de nós fá-lo sem nunca se ter questionado se é o melhor para nós e para o planeta onde vivemos.

Eu sou vegana. Há quatro anos atrás, porque não me sentia saudável, decidi mudar. Mais tarde deixei-me envolver também pelas questões éticas e ambientais do veganismo. Sou vegana por mim, pelos animais, pelo ambiente e por todas as pessoas e seres deste planeta. Ser vegana faz parte dos meus princípios, dos meus valores, das minhas crenças e é consequência de muitas horas de pesquisa, muita leitura, muita reflexão.

Ainda antes do JD ter nascido, eu e o pai dele (que ainda não é vegano por falta de força de vontade para deixar vícios antigos mas que também acredita no veganismo) acordámos que o JD iria comer como a mãe. Ambos sabemos que esta é a forma mais saudável para nos alimentarmos, que é a opção mais sustentável para o ambiente, que é a escolha mais justa para com todos os outros seres deste planeta. Seria irresponsável da nossa parte, sabendo nós os malefícios que os produtos de origem animal trazem à nossa saúde (mesmo o peixe e os ovos e sobretudo a carne e os lacticíneos) permitir que o nosso filho os consumisse. Seria hipócrita da nossa parte esperar que o JD cresça sendo uma criança respeitadora dos animais e do planeta e não os respeitarmos para o alimentar sabendo que existe uma alternativa tão benéfica. Como em qualquer família, usamos o nosso conhecimento para fazer as melhores escolhas para o nosso filho e transmitimos-lhe os nossos princípios, valores e crenças. Fazêmo-lo da mesma forma que uma família que come carne, por questões culturais ou porque acredita que é benéfica, coloca carne na mesa sem questionar se o seu filho a quer comer.

“Então e se ele um dia quiser comer carne?”

Nós acreditamos na parentalidade honesta, ou seja, acreditamos que o nosso filho merece receber sempre a verdade em relação a tudo. Como tal, faremos os nossos possíveis para que ele compreenda de onde vem a carne, o que significa, os efeitos na sua saúde, as implicações para o ambiente, etc. Qualquer criança gosta de animais se não for incentivada ao contrário. Há uma frase muito conhecida do Harvey Diamond que exemplifica muito bem a inaptência natural das crianças para comerem animais: “Coloca um bebé num berço com um coelho e uma maçã. Se ele comer o coelho e brincar com a maçã eu compro-te um carro novo.” O JD contacta frequentemente com animais e nunca mostrou qualquer tentativa de os comer. O mesmo não acontece com a fruta e os vegetais que estão na bancada da cozinha…

Acredito que, crescendo conhecedor da verdade, o JD não irá querer comer produtos de origem animal. Isto é o que geralmente acontece nas famílias veganas – os filhos não mostram qualquer curiosidade por carne e cedo aprendem a perguntar se determinado alimento tem produtos de origem animal para saberem se o querem ou não comer. Desde muito cedo, começam a relacionar o facto de gostarem de animais com a ideologia de não lhes querer causar sofrimento e, consequentemente, não os querer comer. Mas se acontecer, e dependendo da sua idade e nível de maturidade, farei os meus possíveis para compreender porque o quer fazer. E se perceber que ele está consciente da sua decisão e que compreende todos os factos e consequências naturais dessa escolha então nada poderei fazer. Costumo comparar a uma criança que pede aos pais para fumar. Penso que nenhum pai deixará o seu filho (criança imatura) fumar só porque pediu. Qualquer pai ou mãe, perante tal pedido de um filho, procurará perceber os motivos da criança e tentará aconselhá-la de acordo com as suas crenças e valores. Tentará o seu melhor para a informar dos malefícios do tabaco e tentará dissuadi-la. Se a criança não tiver uma relação de confiança bem estabelecida com os pais e consigo própria (aspetos que nós procuramos desenvolver todos os dias), provavelmente irá fumar mesmo às escondidas destes.

Naturalmente estamos a atravessar uma fase em que o JD é muito pequeno para fazer este tipo de escolhas e poderá apontar para um pedaço de carne ou outro alimento contendo ingredientes de origem animal demonstrando vontade de o comer, seja por imitação, por curiosidade ou por fome. E nesta fase sentimos que temos o dever de o proteger do seu desconhecimento e tomar decisões por ele. E isto implica muitas vezes um trabalho extra da nossa parte, como levar comida vegana para festas de anos para partilhar, ter sempre snacks à mão de forma a distraí-lo se aponta para um determinado alimento não vegano e pede para o comer, etc…

Nas escolas, felizmente este ano letivo iniciou-se a oferta de menu vegetariano. Ainda há muitas arestas a limar mas penso que com o tempo a tendência será para melhorar e aumentar este tipo de oferta.

Nutricionalmente falando…

Segundo a Sociedade Americana de Dietistas (American Dietetic Association) uma dieta vegetariana estrita bem planeada é saudável, nutricionalmente adequada a todos os estadios da vida (incluíndo grávidas, lactentes, crianças, adolescentes e atletas) e pode ter benefícios na prevenção e tratamento de certas doenças. Em Portugal, a Direção Geral de Saúde emitiu em 2015 um documento de Linhas Orientadoras para uma Alimentação Vegetariana Saudável. Perante esta informação, pode ficar a ideia errada de que uma alimentação vegetariana estrita requer muito planeamento, muitos conhecimentos de nutrição, muitas regras, etc…Mas não é nada disso! É muito simples e é tudo uma questão de hábito. Tal como a grande maioria de nós está habituada a combinar determinados alimentos numa dieta com produtos de origem animal, depois de se conhecer a alimentação vegetariana esta também começa a parecer muito natural e instintiva. Este artigo explica de forma muito simples e sucinta como as crianças podem obter todos os nutrientes necessários numa alimentação vegetariana estrita. Aqui neste post no meu blog também explico o que o JD come ao longo do dia. Alguns nutrientes requerem uma maior atenção nas crianças, não só vegetarianas estritas mas em qualquer tipo de alimentação. O JD obtém ainda o grosso dos seus nutrientes através do leite materno mas durante o dia tento oferecer-lhe fontes de proteína e de ferro (leguminosas, brócolos), fontes de cálcio (vegetais verdes como brócolos, feijão verde, espargos, couves bruxelas, espinafres, etc), fontes de gorduras insaturadas e ácidos gordos ómegas 3 e 6 (abacate, linhaça, sementes de chia, oleaginosas, sementes de girassol, etc) e fontes de iodo (algas). É uma alimentação rica em fibra, em vitaminas e antioxidantes que alimenta um menino que tem sido muito saudável, cheio de energia e com crescimento e desenvolvimento harmoniosos.

O veganismo tem ainda uma consequência natural que acredito ser muito benéfica para o nosso filho: o veganismo ensina-nos a questionar, ensina-nos que não precisamos de fazer coisas só porque a maioria o faz e ensina-nos a respeitar e a abraçar a individualidade e a diferença.

 

 

A Joana é a mãe do pequeno JD com 1 ano e é uma verdadeira inspiração. No blog Just Natural Please podem encontrar um bocadinho da sua filosofia de vida, muitas receitas saudáveis e vegan e, mais recentemente, com a chegada do JD, uma abordagem muito natural da maternidade.
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