Dizem-nos que tudo vai bem na nossa vida. Os filhos parecem felizes. Estão cada dia mais crescidos. Fazem gracinhas que deliciam todos à sua volta. Riem alto e dizem tontices que nos fazem sorrir por dentro. Estão saudáveis, tanto quanto conseguimos saber olhando apenas para eles. Não nos falta ainda o trabalho, as contas nunca ficam por pagar no final do mês e ainda existem alguns luxos cá por casa. A casa tem o chão com que sonhei, no qual eles poderão brincar todo o dia. Estamos os quatro juntos.

Está tudo bem. Dizem.

Mas, por vezes, o coração chora sem razão. Por vezes, os dias mais solarengos, parecem-nos sem luz. O cansaço que fomos sentindo nos últimos meses, ficou para último plano e agora quer assumir o papel principal. Não nos lembramos da última vez que pensámos em nós, só em nós e agora o nosso corpo quer exigir o que lhe faltou. Fisicamente, os meus braços não se cansam do colo. O meu corpo não se queixa do embalo, do alimento, das corridas. Mas, por vezes, só às vezes, tenho vontade de dormir. De desligar. De sair.

Está tudo bem. Eles dizem. E eu repito para mim mesma.

Está tudo bem. Eles estão bem. Eu fico bem.