Eu e o pai da criança concordamos, desde início, que nunca iríamos querer que o Gui aprendesse coisas antes do tempo. Não achamos bem que saibam ler antes da escola, que aprendam as letras ou os números. Têm tempo! Achamos que cada criança deve ter o seu ritmo, poder explorar o mundo, de acordo com cada fase. Eles aprendem mais quando os deixamos ser eles mesmos, sem pressões. Não forçar a andar, eles todos acabam por lá chegar sozinhos. Não forçar a linguagem, se não houver qualquer problema que assim o justifique eles eventualmente todos falam. Não forçar o desfralde antes da hora certa e por aí fora. Basicamente, a máxima é: tudo a seu tempo!

Mas tudo isto é relativo. Aquilo que tenho vindo a aprender, mais uma vez aprendo tanto com o meu filho, é que o ritmo deles também dita o nosso rumo enquanto pais. O Gui demonstra interesse por certos assuntos, poderia quase dizer que fica obcecado com temas e os explora até à exaustão e isto já nos valeu perguntas como “mas ele é sociável?”, “ele convive com adultos?”. Sim, ele faz tudo isso, sem problemas.

Posso enumerar vários assuntos em que ele já se focou e que passados uns dias, sabe tudo sobre eles. Com cerca de 8 meses começaram os sons de animais e por essa altura já dizia como fazia a vaca, o porco, o pato e o macaco. Depois foi aumentando a lista e de repente sabia todos os animais. Não podia recusar-me ensinar quando ele passava o tempo a mostrar-nos os livros e a fazer sons e adorava que repetíssemos.

Depois foi o nome desses mesmos animais. Depois tudo sobre a quinta. Depois o nome dos membros da família e das pessoas em geral. Depois as coisas grandes e as pequenas. Depois os balões…e com isso as cores. Agora são os meios de transporta (camião, carro e autocarro…mas também mota, bicicleta, camião do lixo, camião cisterna (?), tractor e escavadora).

O Gui sabe as cores desde os 20 meses. O mais triste é que, quando ele diz as cores em algum lado, há pessoas que nos criticam e dizem “isso é cedo demais, tinha tempo”, com se de repente fossemos maus pais. Como se eu tivesse estado a obrigá-lo, como se o tivesse sentado numa cadeira e lhe mostrasse cartazes com cores e o obrigasse a repetir sob pena de levar uma reguada se falhasse! Eu explico, nós nunca o “ensinámos”. Simplesmente, por volta dos 18 meses, ele não se calava, repetia as cores, dizia errado e eu dizia a cor certa (obviamente). Na creche igual, a educadora dizia que ele repetia as cores, pegava em coisas e tentava sempre dizer a cor. O tempo foi passando e lembro-me de um dia ele estar a brincar com a minha irmã e ela de repente dizer-me que ele sabe as cores…fiquei admirada, até ali ele repetia as mesmas ou trocava o azul e o vermelho. Um dia, do nada, parecia saber todas. O “côroja”, o “azuie”, o “roxo”, o “peto”, o “banco”, o “vemelho”, “o vede”, o “amaelo” e o “catanho”. Hoje é também o cinzento, o azul escuro ou claro, o cor de laranja e o bege. Ele quer sempre saber a cor e depois de dizer um objecto, costuma dizer de que cor é.

Estas coisas dependem deles, do interesse deles por um assunto. Quer dizer alguma coisa ele saber as cores? Claro que não!!! Vai sabe-las melhor do que uma criança que as aprende aos 5 anos? Vai saber igual! Eventualmente, chega uma idade em que todos sabem mais ou menos o mesmo, sabem todos as cores, os números até 10 e cantar a música do “eu vi um sapo”. Todos chegam a determinados patamares naturais, a seu tempo, e quanto mais o ritmo deles for respeitado, tanto melhor! Mas não me venham também com ar de “que horror, eu prefiro que o meu filho não saiba”. Cheguei ao ridículo de quase me sentir envergonhada por ele saber, isto faz sentido? Não! Eu sei que ele aprendeu por ele, porque quis e se interessou, e que isso não faz nada a mais ou a menos dele. Faz dele o que é. Alguém que nós respeitamos muito acima de tudo, amamos tanto e sim, temos um orgulho imenso no menino que ele é. Com ou sem cores.

Vídeo Gui, 21 meses, a brincar com a avó e a dizer as cores. Perguntámos propositadamente as cores para ficar no vídeo, raramente o fazemos, ele diz enquanto brinca.

Uma coisa é certa, tu coloriste a nossa vida, filho. E eu só quero que continues feliz como até hoje. No teu mundo de cores, balões e lápis de cera.