Sou a Susana, mulher, esposa, mãe e Doula!

Ser mulher é por si só uma vivência intensa e mística, porque as mulheres vivem profundamente os seus sentimentos e emoções; porque por vezes têm dificuldade em compreender a sua ambivalência, mas também porque as mulheres são multifacetadas, desempenhando vários papéis na sua vida de forma doce e delicada, com serenidade e amor.

O ponto alto destas características é atingido quando se é mãe, quando se gera em nós o mais puro dos seres e dos sentimentos. Ser mãe é profundamente transformador e capacitador. O nascimento de um filho é mágico, assim como todo o processo de gravidez e parto.

Eu sou mãe de dois meninos e à espera de uma menina. O nascimento do primeiro bebé foi, na visão da altura, maravilhoso. Começou com o rompimento da bolsa amniótica naturalmente e rapidamente passou a ser procedimento médico. Desde a introdução de ocitocina sintética intravenosa, à anestesia epidural, episiotomia (corte do períneo) e duas semanas sem me sentar corretamente devido à sutura. A facilidade com que ultrapassamos a memória de dor e que o nosso bebé passa a ser o foco e o nosso mais que tudo é extraordinária. Basta muitas vezes olhar para esta “extensão de nós próprias”. Depois de sermos mães, aprendemos a relativizar algumas coisas e a valorizar tantas outras (como xixis e cocos de um ser pequenino).

Foi, no entanto, no segundo parto que a minha visão sobre o mesmo se transformou. Cheguei à maternidade já numa fase muito avançada do trabalho de parto e não houve tempo para intervenções ou procedimentos médicos, foi um momento assustador, mas ao mesmo tempo de extrema ligação entre mim e o meu bebé. Depois de me reconciliar com a surpresa e a dor do parto, comecei a perceber para mim mesma que o parto acima de tudo é um mecanismo fisiológico e natural e que, desde sempre, as mulheres pariram os seus bebés de forma intensa e única e que eu teria perdido esse momento mágico e puro se tivesse, por exemplo, chegado mais cedo à maternidade.

Este foi apenas o primeiro pensamento para começar a querer saber mais sobre o parto, o nascimento e a gravidez. Ao longo da pesquisa, fui-me apercebendo do termo Doula que, até então, não fazia ideia do que seria. E o conceito foi-me fazendo cada vez mais sentido e foi assim que fui fazer formação e me tornei Doula!

Antigamente o nascimento de um bebé era marcado pela presença apenas das mulheres mais velhas e experientes da família ou comunidade no que diz respeito ao parto, e a Doula seria uma dessas mulheres.

A palavra Doula vem do grego e significa “a mulher que serve”. A Doula não tem qualquer formação médica e como tal não faz qualquer tipo de intervenção dessa natureza. O seu papel é oferecer conforto, tranquilidade, suporte físico, emocional e informativo à grávida e ao casal.

No fundo, dar ferramentas e capacitar os casais a viver o trabalho de parto com uma perspetiva mais natural e serena, conhecendo o processo na sua fisiologia.

Atualmente, a Doula acompanha a mãe/casal durante a gravidez esclarecendo dúvidas, fundamentando as suas respostas em evidências científicas, ajudando a ultrapassar medos e gerir expetativas. Durante o trabalho de parto, tendo em conta que os partos são na sua maioria em contexto hospitalar, seria expetável que a Doula estivesse juntamente com o casal, dando suporte à mãe no que são as suas necessidades mais básicas e transmitindo tranquilidade a ambos. Oferecendo conforto físico à grávida, através de massagens, sugestões de posições e movimentos que ajudem no progresso do trabalho de parto e alívio da dor.

Existem fundamentos científicos (In “ Mothering the Mother” de Marshall H. Kalus, Phyllis H. Klaus e John Kennell) que defendem que a presença de uma Doula, durante o trabalho de parto reduz em 50% a taxa de cesarianas, reduz em 25% a duração do trabalho de parto, reduz em 60% o uso de anestesia epidural, reduz em 40% o uso de ocitocina sintética, por exemplo.

O papel da Doula é também importante no pós-parto, na ajuda no vínculo da mãe com o bebé, promovendo o contacto pele com pele e a amamentação.

Mais que estatísticas, estudos ou teorias ser Doula é receber cada mulher grávida/casal nos nossos braços e acarinha-los nos seus medos, expectativas e diferenças como se fossem também eles parte de nós. É partilhar sentimentos e emoções, nessa que é uma das fases mais importantes e intensas de uma família.

Ser Doula é ser muito mais, muito mais mãe, muito mais companheira, muito mais verdadeira connosco e com os outros, muito mais humilde, muito mais eu, cada vez mais genuína.

Pela primeira vez estou em casa, com gravidez de risco, e sinto que de alguma forma foi a minha filha, esta pequena luz que cresce dentro de mim, que me “disse” que estava na hora de parar um pouco, de me focar mais em nós as duas e desfrutar em pleno tudo o que a gravidez nos dá. Há coisas que simplesmente temos que aceitar e viver o que de melhor existe em cada situação.

Susana Barreiro

 

A Susana é mãe de dois rapazes e espera o nascimento de uma menina. Depois da experiência do segundo parto decidiu tornar-se Doula e mergulhar ainda mais profundamente no mundo da maternidade. Hoje ajuda outros casais a vivenciar de forma mais positiva e real os momentos únicos na gestação, parto e puerpério.

 

Imagem de https://unsplash.com/photos/xrT9twwwC6Y