Esta que te escreve, és tu daqui a muitos anos. Os teus dois filhos já são crescidos, já não vivem na tua casa. Quis escrever-te agora, porque raramente conseguimos aproveitar realmente o presente, viver cada momento, saborear os dias, mesmo os mais difíceis. Nunca mais terás os teus filhos tão próximos de ti. Eu sei que agora é duro, que existem dias em que não sabes como chegas ao final em pé. Sei que passaste muitas noites acordada, sei que durante alguns anos não vais saber o que é dormir 3 horas seguidas, mas confia em mim, tudo passa e mais tarde vais desejar secretamente que essas noites pudessem voltar. Passas o dia a ouvir chamar o teu nome, aquele que te define, “mãe, mamã” mil vezes por hora, por vezes é desgastante, mas sabe tão bem eles quererem-nos tanto. Parece que o teu colo nunca chega, não sabem estar sozinhos, não dormem sozinhos, não brincam sozinhos, nem sequer te deixam tomar um duche rápido ou acabar de fazer a cama de manhã, mas tu vais ter tantas saudades disso. Aproveita! Aproveita muito. Cada segundo deles. Essas caras de bebé, essas mãos gorduchas, esse cheirinho no cabelo deles, esses sons enquanto dormem, enquanto mamam, enquanto sonham, tudo acaba. Eles crescem. O teu amor cresce com eles. Mas vais desejar congelar o tempo. Vive! Vive os dias ao lado deles. Eles não te largam nem por um segundo, eles querem estar junto de ti, és a preferida deles para tudo. É contigo que querem brincar, comer, dormir. Seguem-te por todo o lado. Isso vai acabar. E tu vais sentir falta deles à tua volta pela casa. Vais sentir falta dos gritos, da casa cheia de migalhas, da comida pelo chão, das centenas de brinquedos espalhados por todo o lado, da roupa por lavar, das roupas pequeninas no estendal. Vais sentir tanta falta de dormir abraçada a eles, do cheiro deles, da voz deles, dos beijos lambuzados. Um dia são eles que não te dão tanta conversa, vais fazer perguntas que nem sempre respondem, vais querer prolongar um telefonema para os ouvir mais um pouco. Eu sei que agora sentes que nem sempre é fácil seres interrompida a toda a hora, eles quase não te deixam falar para alguém. São eles que te chamam se estás a mexer no telemovel ou se passas os olhos na televisão. Mas um dia vais ser tu. Não desperdices nenhum momento. Tudo passa, sim, as birras passam, os gritos passam, eles não são assim tão reguilas como te dizem, vai tudo correr bem. Não tenhas pressa, eles deixam de mamar, deixam de precisar de ti para adormecer. És tu quem mais vai precisar deles um dia. Deixa-os viver, fazê-los felizes é tão fácil, eles apenas precisam de ti. Tu não sabes, mas nunca vais ser tão feliz como és agora. Os teus dias são intensos, vive-os. Brinca sem medo, deixa-os sujarem-se muito, deixa-os explorar o mundo, e faz tudo isso com eles. Tudo o resto espera. A casa espera, a roupa espera, os amigos esperam, tudo ficará no seu lugar, excepto eles. Eles crescem. E tu vais sentir amor, orgulho, e saudades. Tantas saudades. Os teus filhos estão numa idade maravilhosa. Regista o que eles dizem, ouve-os com atenção, observa-os bem, beija-os muito, diz que os amas. O tempo passa, passa demasiado rápido, eu sei que sabes isso, mas nós esquecemos. No dia a dia esquecemos de viver. Olha para eles agora, pequeninos, felizes, eufóricos apenas porque lhes dedicas atenção, desejosos de viver tudo ao teu lado. São os teus bebés, mais rápido do que qualquer mãe desejaria, eles crescem. Vive agora, para que nunca tenhas que dizer que se fosse agora terias vivido mais, aproveitado melhor. 

Da mãe do futuro, aquela que sente saudades de ser a mãe que és agora.