Quando decidimos que eu ficaria em casa com a nossa filha, foi necessário repensar a nossa vida. As despesas, as mudanças, aquilo que iríamos ou não poder abdicar. No final, quando tudo o resto estava decidido, faltava eu. Eu tinha a palavra final sobre tudo isto. Será que ia ser bom para mim? Será que ia conseguir ser feliz assim? Será que ia sentir saudades do trabalho? Da agitação? Falta das minhas rotinas, das minhas pessoas, de uma parte de mim.

Ficar em casa com a minha filha, foi como abrir um lado meu que estava totalmente fechado até ali. Foi descobrir-me mais um pouco. Uma parte minha que eu desconhecia e que me fez sentir medo do futuro.

Para além disso, faltava ainda um peso na balança: os outros. O que as pessoas que eu conhecia iam pensar de mim. O que os meus amigos iam achar. O que a minha família ia sentir em relação a esta mudança. Inevitavelmente, passei a sentir-me um bocadinho menos. Menos interessante, menos útil, menos ambiciosa, menos. Foi fácil passar a ser inferior, mesmo que ainda ninguém tivesse verbalizado isso.

Quando passas a estar em casa a tempo inteiro, normalmente, ninguém te pergunta como correu o teu dia. Ninguém pergunta se está tudo a correr bem nas tuas rotinas. Ninguém te elogia quando consegues superar-te. Ninguém valoriza o que fizeste, mesmo que tenhas tido um daqueles super dias em que te sentes a maior por ter feito tanto! Ninguém te pergunta se queres ir dar uma volta no final do dia para aliviar a pressão. Quando desabafas com alguém e finalmente dizes que estás cansada, ou que os dias por vezes são complicados, a resposta é que “é normal”,que “está na hora de ir trabalhar”. Ou então, relembram-te que foi uma decisão tua, logo, não te podes queixar.

Eu sinto que a maioria das pessoas que eu conheço estão só à espera que eu diga que não devia ter tomado esta decisão. Que admita que me arrependi. O tempo passou, já estou em casa há 16 meses e ainda sinto que toda a gente vai respirar de alívio no dia em que eu for novamente trabalhar e deixar a minha filha na creche. Como se até lá, estivéssemos a inverter a ordem das coisas, como se uma peça da nossa vida não encaixasse.

Já me afectou muito o que os outros pensam de mim. Afastei-me de algumas pessoas, por não saber o que lhes dizer. Protegi-me, inventei desculpas para os outros e justifiquei-me quando não era necessário.

Hoje, cada vez isso me preocupa menos. Sei que a minha decisão foi a melhor para nós e isso deixa-me mais leve e serena.

Até quando ficarei em casa?

Já pensei várias vezes na resposta a essa pergunta. No início, achei que ficaria durante o primeiro ano, mas depois achei que era tão pouco. Agora, já não tenho um prazo. Aprendi a encontrar respostas onde elas são verdadeiras. Não nos outros, mas em nós. Em mim e neles.

Eu sei que a minha filha me vai mostrar quando for a hora. Estamos a caminhar juntas, eu sei ler o que ela sente, eu vejo através dela.

Até quando? Até ela me mostrar que estamos prontas!

Obrigada Catarina (Dias de uma princesa) por hoje me teres feito pensar nisto e por me relembrares que o que tantas vezes nos impede de estarmos felizes são as nossas expectativas e os outros.