“Acabaste de nascer e já me disseram para não te ter sempre ao colo. Há quem diga que ficas mais direitinho no berço, numa posição mais confortável. Tento resistir à tentação de te ter sempre por perto, mas não te quero habituar mal. E se depois não queres largar o meu colo? Tenho receio de não conseguir fazer nada em casa, talvez seja melhor deixar-te a dormir na alcofa. Desespero porque acordas tão rápido, estás a dormir no colo como um anjinho, mas assim que te deito tu despertas. Quando alguém nos visita diz sempre que a culpa é minha, fui eu que te habituei mal, estás sempre ao colo, não pode ser. Ainda por cima, estás sempre a pedir para mamar. Ainda nem 3 horas passaram. Será vício? Já me disseram que podes estar a ficar viciado em mama e que tenho que te dar a chupeta.

De repente, tens quase 4 meses, por isso, tenho que te preparar para a creche um dia. Lá não vais ter colo para adormecer, nem maminha a toda a hora, por isso, disseram-me para te ir habituando já em casa. Tento adormecer-te no berço, canto para ti, faço-te festinhas, mas tu demoras uma eternidade a fechar os olhos, queres o meu colo. Às vezes cedo e pego em ti, mas depois sinto-me culpada de novo, fico com medo de te habituar mal. Não quero que sofras na creche. Não quero que fiques dependente de mim. Não quero que sejas demasiado apegado à mãe.

Quando dou conta já passaram 6 meses. Meio ano. Andei ansiosa a pensar que estava a chegar o dia de passares a dormir no teu quarto. Toda a gente me diz que me custa mais a mim do que a ti. Talvez seja verdade. Até o médico me disse na consulta que depois mais tarde custa mais, quando já compreenderes melhor onde estás. Assim nunca saberás que estiveste no nosso quarto, talvez te adaptes melhor. Adio um dia ou dois, mas as noites pioram e explicam-me que a culpa é minha porque ainda dormes ao nosso lado. As noites começam a ser mais difíceis porque tenho que me levantar várias vezes até ao teu quarto. Tenho sono, ando exausta, então o médico diz que tenho que te deixar chorar um bocadinho, para não ir a correr ao menor som, às vezes os bebés têm manhas e começam a manipular os pais. Se te deixar chorar um pouco, depois tu acabas por adormecer e perceber como funciona isso de dormir sozinho. É importante para ti, tens que aprender como se faz, tens que dormir mais, porque assim não te desenvolves tão bem. Agora já não dormes ao colo, nem na maminha. Agora já dormes muitas horas seguidas. Resultou. Talvez estejas mais independente. Custou-me mais a mim, de certeza. Tu nunca te vais lembrar.

Entretanto fazes 1 ano e está a ser difícil para deixares de mamar. Já é apenas vício, já não precisas, mas ainda pedes algumas vezes. Todos me dizem que a culpa é minha, deixei-te continuar a mamar por tempo a mais. Agora custa mais. Ficaste em casa até agora, fui adiando por achar que eras demasiado pequeno. Mas já me vão avisando que é melhor ser antes dos 2 anos. Vai custar cada vez mais. Se tivesses ido com 5 meses era mais fácil. Agora dizem que vais chorar mais. Estás mal habituado.

O tempo voa, quase não dou por ele. Já tens 3 anos e ainda usas chupeta e fralda. Não imaginas a pressão que sinto à minha volta. Não passa de hoje, custe o que custar, vai ser para o teu bem, filho. Não é fácil ter tanta vontade de passar o tempo contigo, de te deixar dormir ao nosso lado onde pareces não sentir medo de nada, de te dar colo sem fim, e sentar-me no chão a brincar contigo. Mas acho que estou a educar-te bem, és um menino independente, que dorme sozinho no seu quarto a noite inteira, já não mamas, não usas chupeta nem fralda e vais à escola. Assim custa menos, o mundo não é um lugar fácil e eu não te quero mal habituado.”

Não sei até quando vamos tentar continuar a ensinar as mães a serem mães. Até quando vamos continuar a dar conselhos repetidos, palavras batidas. Até quando vamos continuar a dizer que não os podemos habituar mal… quando habituar mal parece ser só amor. Não há amor a mais. Nunca! Sigam o coração, só isso será o que custa menos. Não a eles, mas aos dois, porque não é suposto custar. É suposto ser mágico.

Foto Cátia Teodoro Fotografia