Longe vai o tempo em que amamentar era um acto natural. A mãe amamentava. Só isso. Era assim e pronto. Sim, existem as excepções, os casos difíceis, os casos raros. Mas no geral, os bebés nascem, as mães amamentam, e tudo corre relativamente bem. Isto porque o nosso corpo é quase perfeito. A natureza está bem feita e o instinto de sobrevivência fala mais alto. 

Hoje não basta um bebé nascer e uma mãe amamentar. Amamentar hoje é quase um acto heróico, um milagre! “Ainda amamentas? Que sorte, o meu leite era fraco!”. A maioria das mães olha com estranheza para quem consegue amamentar, e falamos ainda de bebés recém-nascidos. Hoje amamentar é um acto de coragem, de determinação, de confiança. Porque não basta amamentar. Para amamentar, temos que ter a força de ignorar as vozes da amamentação. As vozes que nos deitam abaixo de todas as vezes que as coisas são mais difíceis. As vozes que ainda antes de sermos mães, nos dizem que amamentar é duro, que dói, que nos rouba a independência toda, e que mulher moderna escolhe amamentar ou não, que há leites tão bons que substituem. As vozes que nos dizem que com leite adaptado é que o bebé dorme bem. As centenas de vozes que nos dizem que o bebé tem fome, que o leite não chega, é fraco, é pouco. As vozes que culpam a amamentação das noites sem dormir, das cólicas, do choro, da irritação de um bebé. 

Mas estas não são ainda as vozes piores. Se uma mãe estiver bem informada e bem acompanhada, facilmente se aprender a ignorar essas vozes e a seguir em frente. O pior são as vozes da nossa geração. As vozes que apelidam quem amamenta de fudamentalista ou naturalista (Sim, de facto trata-se de um acto natural). As vozes de mães que se unem contra quem amamenta como se estas tivessem “a mania”. Vozes que nem sabemos de onde vieram, vozes que eu própria já tive, como quando eu achava que não ia amamentar em público, quando eu achava que não ia amamentar um bebé que já falasse e andasse. 

Não digam as coisas só porque sim. É tão fácil seguir o rebanho. Nem sequer nos apercebemos do quão ridículos somos. Do quanto nos deixamos influenciar por um marketing agressivo que ao longo de anos nos tem metido na cabeça que amamentar é só nos primeiros meses, que amamentar cansa, que amamentar não deixa os bebés dormir, que amamentar é em privado, que fotos a amamentar são íntimas. Vejo a minha geração dizer isto. Mães como eu. Mães com 30 anos, jovens mães. Mães que comparam fotos de mães a amamentar com intimidade, que argumentam que também não se partilham fotos sexuais de um casal! Vamos dismistificar isto. Não falem só porque sim. Não vamos todos seguir o mesmo. Pensem primeiro de onde surgem estas vozes todas. 

Amamentar é natural. Todas as mães deveriam poder estar a amamentar. As razões porque isso não acontece são imensas. Mas amamentar é que é o natural. O corpo da mulher é desenhado para isso. Se falhamos, se não era viável, se não queremos, então sim, temos opções e devemos respeitar-nos nas nossas escolhas. Mas vamos parar de ouvir vozes, de esconder algo tão bonito, de discutir algo que não tem discussão. 

Este fim-de-semana comentei num grupo de amamentação que até hoje nunca ninguém se dirigiu a mim quando amamento a Laura em qualquer lugar. Nunca amamentei a Laura em casas de banhos ou fraldários, simplesmente porque acho isso horrível. Amamento a Laura onde estiver, seja qual for o local. Ontem, pela primeira vez, ouvi comentários em relação a isso. Uns senhores sentados atrás de mim, ficaram incomodados. Um deles disse que no Brasil amamentar  em público dá multa de 500 reais. Disseram que quem amamenta são as ciganas. Que é feio. 

Eu pergunto, em que mundo estamos? Em que mundo é natural e normal vermos uma mãe dar biberão ao bebé em qualquer lugar, mas um bebé de 5 meses que mama é feio? 

Pensem por vocês. Não se deixem ir pelas vozes dos outros. Pelos complexos que estão apenas na nossa cabeça. Por ideias que nos vão sendo impostas pelos avós ou pelas tias das vizinhas. 

Amamentar pode ser uma experiência única. Procurem apoio. Livrem-se das vozes. Comecem do zero. Vão ver que vale a pena.