Se és mãe e costumas ler o que eu escrevo, então estas palavras são para ti.
Nunca direi que és má mãe, que és pior mãe, que duvido de ti como mãe, que não és a melhor mãe que o teu filho poderia desejar. Podes ler as minhas palavras da forma que quiseres, podes sentir-te ofendida, triste, revoltada, podes irritar-te, mas nunca estarei a dirigir-me a ti pelo que tu fizeste com o teu filho.

Nunca questionairei as tuas escolhas. Nunca vou querer ensinar-te a ser mãe. Nunca vou tentar saber mais do que tu em relação ao teu filho, à tua família, à vossa vida.

Mãe que me lês, és a melhor mãe deste mundo, tenho a certeza disso. Fazes o que sentes que deves fazer, o que te diz o coração, o que te moveu na vida, o que os teus olhos contam, o que as tuas mãos já tocaram. Farás o que te ensinaram, seja o teu legado, o teu passado ou mesmo o teu filho e o teu presente. Nunca estou em tua casa para te ver à noite quando o silêncio toma conta da casa e recebe os teus medos e inseguranças. Nunca estou em tua casa quando o teu bebé dorme a noite inteira ou chora sem fim. Não estou em tua casa quando os teus filhos estão doentes, ou quando deixam de comer, ou quando fazem uma birra. Não estou na vossa mesa do jantar, nem na vossa cama, nem na hora do banho, nem quando passeias na rua.

Por isso, lê como quiseres, mas antes de te sentires atingida, lembra-te que estas palavras nunca serão para ti a não ser que as queiras ler, que precises de as ler, a não ser que precises de ajuda, de um conselho, de uma ideia. A não ser que sintas que aqui leste algo que desejas para ti também ou que, pelo contrário, nunca quererás fazer.

Temos cada vez mais grupos de mães no Facebook, cada vez mais comunidades virtuais que tentam imitar aquilo que sempre aconteceu naturalmente, mães unidas a cuidar dos seus filhos, mães a quem pedimos ajuda ou conselhos, mães que se apoiam. Mas aquilo que vemos não é isso. Vemos medo de escrever. Vemos palavras falsas que sabemos que é o que todas as mães gostariam de ler. Se damos uma opinião diferente, estamos a magoar alguém, estamos a atingir uma mãe qualquer que não fez a mesma escolha e que se vai sentir culpada se ler. Uma mãe expõe aquilo que se passa em sua casa, abre uma porta, pergunta o que achamos, mas quando dizemos a verdade, ficam magoadas, na verdade queriam apenas que lhe dissessemos que fez bem. As mães no fundo são cada vez menos seguras, confiam menos em si. Precisam que lhes validem as escolhas.

Quando se escreve um blog, primeiro começamos por expressar a nossa opinião sem medo, vão chegando os leitores, as pessoas que se identificam. Depois chegam cada vez mais. E do outro lado do teclado alguém começa a ter medo de escrever a verdade. Já dei por mim a rever textos com medo de ofender alguém, já dei por mim a modificar frases para que não sejam mal interpretadas. Mas não voltarei a fazer isso. Aqui fala-se das minhas escolhas, de colo, de amamentação, de educação sem gritos ou palmadas, fala-se de cama partilhada, de pais presentes. Fala-se de erros também, de escolhas, de medos, de dias difíceis. Já deixei de comentar em vários grupos de mães, porque prefiro deixar de o fazer do que ir na corrente da mentira e da hipocrisia. Mas aqui não me vou calar, porque é isto que me move, é este o meu mundo que eu escolhi abrir para vocês.

Sintam-se em casa aqui. Sintam-se sempre à vontade, comentem, escrevam-me, discordem de mim, contem-me a vossa experiência. Mas nunca leiam as minhas palavras da forma errada, porque eu tenho as minhas escolhas, porque eu até posso condenar a ideia de bebés que choram para adormecer, condenar quem bate em crianças ou ameaça, posso até discordar das vossas escolhas, mas nunca questiono o vosso poder de mãe.

Vamos lá deixar de ser hipócritas, vamos lá deixar de usar o pior argumento que se pode usar numa discussão: “não sou menos mãe por…”. Óbvio que não és menos mãe se não amamentas, se tiveste uma cesariana, se o teu filho dorme sozinho. És mãe igual, a mãe que sabes ser, que escolheste ser, que queres ser. É na nossa cabeça de mãe que estão as dúvidas, os medos, lembra-te disso, estão dentro de ti, não nas minhas palavras ou nas de outras mães que lês por aí.

Este blog não vai ser mais um “assim-assim”, daqueles que não são “nem carne nem peixe”. Não vai ser mais um blog entre tantos que escrevem o que todos querem ler. Não vão ler aqui frases minhas seguidas de “mas eu respeito quem faz diferente”. Porque só posso respeitar. Porque isso não precisa ser dito.

Aqui só vais ler a verdade, mãe. Mas essa verdade, se não for a que gostarias de ler, só preciso que saibas que não a escrevi para ti.