Existem dias em que sentes que sabes tudo. Consegues vesti-los aos dois. Deita-los lado a lado, fazes cócegas, riem juntos, depois eles esperam que tu te vistas. Vais passear e corre tudo bem. Ele fala baixo e tudo! Ela está feliz. São dias em que te sentes uma super-mãe e pensas que estás a dominar, finalmente, esse papel. Aquela birra a meio da tarde sem aviso prévio não parece assustadora e dás-lhe a volta em minutos. Consegues falar. E eles conseguem ouvir. Não há choros, nem teus nem deles. As refeições estavam programadas, até consegues fazer umas bolachas todas saudáveis para a tarde. Sentes que sabes como lidar com eles. Com o que eles precisam. Com as frustrações e os dramas. Sentes que estás no bom caminho. Olhas para eles e sabes que estão a fazer um bom trabalho, não, um óptimo trabalho caramba, que tu mereces!

Mas não. As mães não sabem tudo. Não sabem, porque todos os dias são diferentes. Não sabem, porque ter filhos é um turbilhão de emoções. Num dia somos as maiores, conseguimos fazer tudo. No seguinte, nada funciona. Eles rebolam enquanto os vestes, o braço dela fica preso e ela chora. Ele não quer aquela roupa e grita como se fosse o fim do mundo. Enquanto te vestes (sem quase reparar se a camisola combina com as calças), eles choram, ela tem fome, ele quer atenção. Demoras uma eternidade a sair de casa. Quando sais, já não tens vontade e levas contigo um mau humor que não era suposto. Tudo começa a irritar. Os pedidos constantes em tom de súplica e choro. A porcaria da cadeira que não aperta. Ela que ainda não gosta de andar de carro. Ele que não suporta ouvi-la chorar. Têm sede, fome, frio, calor, e sabe-se lá mais quantas coisas. A birra a meio do dia sem aviso prévio torna-se épica, porque tu não tens paciência para lidar com ela agora. Não consegues falar. Não te apetece. Eles não conseguem ouvir. Mandas apenas um berro a dizer que já chega. Ninguém cala uma birra com gritos. Tu sabes. Mas hoje esqueces tudo. Hoje és a mãe que nada sabe. Hoje é o dia em que todas as outras mães parecem saber tudo. Hoje é o dia em que dizes disparates, palavras que te arrependes. Hoje é o dia em que parece que não sabes ser mãe.

Tantos dias em que as mães não sabem tudo. Não sabem como calar o bebé que ainda ontem adormeceu tão bem. Não sabem amamentar. Não sabem como dar banho sem salpicar a cara. Não sabem como ajudar numa birra. Tantas vezes que as mães não sabem como ter mais braços, mais colos, mais ouvidos, mais força, mais tempo, mais paciência. Tantas vezes que o mundo cor de rosa da maternidade fica sem cor.

As mães não sabem tudo. Mas nunca desistem. E, na verdade, ninguém sabe mais que uma mãe.