Há uns dias saiu um artigo muito informativo sobre as ementas nas creches que podem ler na íntegra aqui. Vale a pena perderem uns minutos a ler com atenção.

Isto deixou-me a pensar. Já não é a primeira vez que me deparo com esta informação em grupos do facebook. Muitas mães se queixam das ementas da creche dos seus filhos e eu fico verdadeiramente escandalizada com o que leio! Salsichas? Chocolate? Fritos sem fim? Mas estamos onde? Será que isto era mesmo necessário? Compreendo que muitas vezes se trata de contenção de custos, mas até que ponto é mais barato oferecer tulicreme do que uma fatia de queijo?

Isto faz-me ter a certeza que temos mesmo muita sorte com a creche que escolhemos para o Gui, mas não devia ser assim, devia ser o normal. O mais engraçado é que as coisas que mais apreciamos hoje nesta instituição, não foram os motivos que nos levaram a escolhê-la há 2 anos atrás. As coisas mudam tanto, a nossa percepção e as nossas prioridades alteram-se quando temos filhos. Sempre tivemos uma alimentação cuidada lá por casa, sem grandes extremismos e se nos perguntassem como iria comer o Gui quando tivesse idade, eu diria que saudável. Mas não foi essa a minha preocupação quando visitámos creches. Confesso que escolhermos por se encontrar no local de trabalho de ambos na altura, mas também porque várias pessoas nos recomendaram. Não escolhemos por ser a mais moderna, nem a mais cheia de brinquedos novos, escolhemos porque várias pessoas nos disseram que os filhos eram felizes ali. A diferença é que na altura eu ainda não sabia que eles seguiam um modelo de educação com o qual eu tanto me identifico, o que eu não sabia é que eles aceitariam todas as nossas sugestões, estariam abertos sempre ao diálogo, aceitariam que eu não quisesse que o Gui comesse papas, ou bolachas. O que eu ainda não sabia é que as ementas iriam ser saudáveis e ainda ofereceriam a opção dieta. Não sabia que se pedisse para o Gui nunca comer porco, ele nunca comia porco. E são estas pequenas coisas que nos fazem sentir tão bem lá e que nos deixa de coração mais leve quando o vamos levar de manhã, porque apesar de não ficar connosco, que seria o ideal, sei que fica tão bem entregue.

Quando leio notícias destas, ou desabafos de mães, agradeço intimamente termos escolhido esta creche. Se um dia tivermos que mudar, sei que me vai custar pela vida entrar num outro espaço em que passemos a ter reuniões mensais e individuais com a educadora (??? sério? eles são bebés), em que passe a existir um plano pedagógico xpto que me diz que o meu filho deve gatinhar ou deve encaixar peças nos puzzles (não, obrigada), em que os pais é que fazem TPCs em casa de miúdos que nem ainda sabem pegar em lápis, e por aí fora. Acima de tudo, preocupa-me muito que um dia o Gui frequente um espaço em que as ementas sejam como as descritas no artigo.

De quem é a responsabilidade de mudar isto? Dos pais! Muitas vezes acho que somos passivos demais, deixamos passar sem nos importarmos. Muitos pais nem sabem o que eles comem por lá, outros ficam sem alternativa. Se todos nos juntássemos, as coisas poderiam mudar. Mas normalmente só um ou outro pai é que vai falar na creche e são normalmente vistos como os “fanaticozinhos” da alimentação saudável! Não deviam ser estes os pais a quem o dedo é apontado. Devíamos apontar o dedo aos outros, aos que não se importam, aos que acham que mais uma taça de cereais de chocolate menos uma, não faz diferença. Aos pais que enterram a cabeça quando falamos de obesidade infantil, diabetes infantil, problemas de aprendizagem e concentração, e problemas ainda mais graves de saúde porque sabemos que alimentação saudável ajuda a prevenir muitas doenças, e ajuda a minimizar os efeitos de outras. Mais chocante é que muitos preferem continuar a dizer que são tudo exageros, aliás, basta lerem os comentários ao artigo em que temos mães a dizer que preferiam quando nada disto era fiscalizado.

Tenho pena, pena que continuemos a virar a cara quando nos dizem que o açúcar é veneno, pena que o argumento continue a ser que tudo deve ser sem extremismos bla bla bla. Essa será a eterna desculpa de quem sabe que nunca vai mudar a forma de pensar. É como aquela dieta que nunca vamos começar, achamos sempre que é só mais uma fatia de bolo, só mais um dia. Mudar implica esforço, determinação. Mudar a alimentação dos nossos filhos está nas nossas mãos e começa logo quando nascem. Mudar a alimentação nas creches e nas escolas é nossa obrigação, a meu ver, enquanto pais.

Deixo-vos exemplos das refeições servidas na creche do Gui.

  • Peixe cozido com batata e hortaliça
  • Coelho estufado com arroz de ervilhas
  • Arroz de peixe
  • Peito de peru estufado com arroz de cenoura
  • Maruca cozida com batata cozida e brócolos
  • Cherne à posta grelhado com batata cozida e cenoura
  • Arroz de bacalhau
  • Salmão grelhado com arroz de cenoura
  • Peito de frango grelhado
  • Jardineira de peru

Também servem carne de porco, mas é opção dos pais, como tudo o resto da ementa. Todos os dias há uma papa de fruta diferente e uma sopa. São três ementas diferentes que rodam semana a semana. Nenhum destes pratos me parece demasiado caro ou trabalhoso e aqui não há fritos nem sobremesas uma única vez. Não faz falta! Todos os pratos são acompanhados de uma verdura diferente.

Não quis expor aqui as ementas na íntegra, mas para verem que falo a sério, deixo-vos a foto que tirei hoje de manhã de uma das ementas.

ementa

 

Como é com vocês? O que pensam disto?