O teu filho é aquilo que é. Nem sempre vai ser o que gostavas que ele fosse. São as nossas expectativas elevadas que estragam tudo. São os outros e as suas comparações sem sentido. Podes dar o teu melhor, podes ensinar, ajudar, apoiar, amar sem fim, e haverá um dia em que parece, de repente, que todo o teu esforço foi em vão. Pode ser naquele momento em que ele desata a gritar no meio da rua. Pode ser no dia em que esperneia e não sabes porquê. Pode ser no dia em que começas a ouvir um “não” como resposta a tudo o que lhe dizes.

O teu filho é como é. Podes até achar que ele é mais tímido do que gostarias, que se esconde atrás das tuas pernas quando lhe falam, que enterra a cabeça no teu colo quando o olham. Eu sei, gostavas que ele falasse e mostrasse a criança fabulosa que tu sabes que ele é, mas ele mostra apenas um lado que não compreendes.

Talvez digam ao teu filho que ele é envergonhado, que é elétrico, que é rabugento ou teimoso. Talvez até o ofendam, quando o chamam bebé por ainda usar chupeta, ou feio quando faz uma birra em público.

Mas, mesmo que o teu coração encolha, mesmo que por vezes, no fundinho da tua mente, desejasses que algo fosse diferente, lembra-te: o teu filho é um ser humano único. Deixa-o ser. Ajuda-o a construir a identidade que o define.

Ele não vai ser mal educado se for educado com amor. Ele vai dizer obrigado e boa tarde, se tu sempre o fizeres à frente dele. Talvez ele um dia até já queira dar um beijo à tia que vos visita no Natal, quando isso fizer sentido para ele. Custa, mas ele vai aprender a lidar com as emoções, vai deixar de chorar quando não sabe como aceitar um não. Vai perceber os limites, principalmente que existem limites individuais de cada pessoa. E a melhor forma de lhe ensinarmos a respeitar os outros, é respeitá-lo a ele também.

O teu filho é exatamente aquilo que é. Nada mais. E eles mudam. Eles crescem. Eles formam o seu ser. Nós estamos aqui apenas para os apoiar, para os guiar. Educar é amar e amar para educar é a maior dificuldade que enfrentamos.

Não lhe atribuas um rótulo. Não sintas vergonha dele. Não desculpes o choro, a birra, a cara escondida atrás de ti, com “ele é assim tímido, ele não gosta de pessoas, ele é um birrento”. Se somos nós, as pessoas em quem eles mais confiam, a dizer que eles são assim, porque eles não seriam mesmo um dia?

O teu filho não é aquilo que gostavas que fosse. Ele é o que é. E quanto mais aceitares isto, mais fácil será de serem incrivelmente felizes assim. Tu e ele.

(Os outros? Esses nunca precisam entrar nessa equação do amor)