No dia 28 de abril de 2014 saímos de casa quando o sol estava a nascer. Era o dia em que iríamos conhecer o nosso filho, o nosso primeiro filho. Não foi ele que decidiu assim, fomos nós.

Entrei na clínica nervosa mas feliz. Sabia quase todos os procedimentos. A minha médica chegou, começou a indução. Pediram-me para relaxar, iam fazer de tudo para acelerar. Catéter, fios, máquinas, ruptura de bolsa, medicação. Todo o aparato a que eu escolhi sujeitar o meu filho. A que eu me sujeitei.

Depois veio a anestesista para a epidural. Enquanto esperávamos para verificar se tudo corria bem, ela disse-me.

Ainda bem que escolheste uma cesariana. É muito melhor para a mulher. Com parto normal nunca mais voltamos a ser as mesmas.

Depois ainda me segreda, em tom de confissão e com um piscar de olhos.

Os homens preferem.

Eu era outra pessoa na altura. Não sabia o que era ser mãe. Achava que estava super bem informada, mas hoje sei que não. Respondi apenas que ia tentar um parto normal. Ela não soube o que responder. Eu não disse mais nada. Mas, por momentos, senti vergonha de ter escolhido um parto normal num hospital privado. Na sala de partos ela pediu desculpa. E eu nunca mais a vi até hoje.

Aquelas palavras não me afectaram, pelo contrário, ajudaram a formar a pessoa que sou hoje e foram, talvez, o empurrão que eu precisava para me informar melhor. Mas são frases destas que manipulam a nossa forma de encarar um momento tão maravilhoso como o nascimento do nosso filho. Quando são profissionais de saúde é grave, quando são mulheres ainda mais.

Aquele foi o primeiro dia do caminho que fiz e que me levou ao parto natural e perfeito da minha segunda filha. Mas podia ter sido o dia em que eu escolhia um parto diferente, sem qualquer motivo que o justificasse.

Já sei que alguém vai comentar que estou a julgar quem opta por uma cesariana eletiva. Mas não. Eu já fiz outras escolhas. E foram sempre as melhores para a informação que tinha. Mas informem-se muito mesmo. Os médicos, os outros, não podem ser os únicos a definir o vosso parto. E, acima de tudo, frases como esta são violência obstétrica e devem ser denunciadas. Só nos calamos por falta de informação. E são frases como esta, e tantas outras tão mais duras, que deixam marcas difíceis de curar.

O dia 28 de abril foi o dia que o meu filho nasceu. Não porque ele estava pronto. Porque quisemos que fosse. E foi a última vez que o deixei de fora de uma decisão de família, de uma decisão que lhe diz respeito.

Desculpa, filho. Eu já me perdoei, mas espero que um dia também o faças.