Dizem que os pais de hoje não sabem educar. Que deixam fazer tudo. Que não sabem impor limites. Que seguem essas “modernices da disciplina positiva”. Eu não consigo ver isso. Apenas vejo pais cada vez mais nervosos. Sempre a colocar regras, sempre a impedir, a chamar a atenção, a ameaçar, a castigar. Os pais têm medos dos outros pais. Estão sempre com medo de estarem a ser julgados. Os pais têm medo que outros pais julguem os seus filhos. Estamos numa era de fervorosa competição entre pais. São os pais que mais entram nas discussões que pertenciam outrora apenas às crianças. 

Se és mãe, então estas palavras são para ti.

Mãe (e pai), não vai ser sempre fácil aceitares os teus filhos exatamente como eles são. Para ti, serão sempre perfeitos. Mas será nos olhos dos outros que irás ver o reflexo do lado menos bom. Achamos sempre que somos capazes de aceitar os nossos filhos, com tudo o que os caracteriza, mas é perante outros pais que irás vacilar pela primeira vez. Começa cedo, primeiro com as comparações que sabes que não deves fazer, mas que acabam sempre por surgir. Talvez te questiones se o teu filho ainda não se senta, ou ainda não manda beijinhos. Quando dás conta, estás a ter dificuldade em compreender porque ele te dá chapadas e ainda é tão pequenino. Lá no fundo tu sabes, tu sabes que é normal. Tu conheces o teu filho. Mas são os outros, são os olhares alheios que te irão fazer duvidar. 

Aceita os teus filhos como eles são. O mais maravilhoso em cada criança, é a sua autenticidade. Elas não copiam ninguém, as crianças não sentem inveja, não sentem vergonha. As crianças, quando as deixamos ser, são apenas, são porque sim, são verdadeiras. As crianças, quando são livres, são sem medos. Os filhos não são sempre bonitos e penteados. Não são sempre bem comportados. Não são sempre meigos. Não dão apenas beijos e abraços. Os teus filhos também se zangam, também ficam cansados, frustrados, revoltados. Os teus filhos às vezes estão ranhosos e assoam-se à manga da camisola, mesmo que já lhes tenhas pedido 50 mil vezes para não o fazer. E, às vezes, são tão chatos, especialmente quando os adultos estão cansados. As crianças, umas com as outras, por vezes gritam, saltam, empurram e batem. Os teus filhos, não serão sempre os melhores da turma, não vão sempre fazer tudo como gostarias que fizessem, vão errar, vão cometer erros, vão fazer o oposto do que lhes pediste e vão seguir caminhos, alguns sem saída. Os teus filhos vão-as apaixonar, talvez nunca pela pessoa que acharias mais correta, mas se eles forem livres, seguros, farão a escolha certa para eles. 

Os nossos filhos não nos pertencem. Apenas estamos aqui para os guiar no mundo. Deixem-nos existir. Nem sempre é fácil enfrentar os olhares, nem sempre é fácil ouvir bocas alheias que nos julgam, que acham sempre que uma palmada na hora certa fazia tão bem. Nada disso importa. Os outros não importam. Olhem para os vossos filhos, sigam um caminho, um dia, se tudo correr bem, a vida encarrega-se. Os nosso filhos têm o direito de ser crianças, de falar alto nos sítios menos próprios, de chorar quando não conseguem encaixar a peça do puzzle, têm o direito de não gostar de toda a gente que lhes impingimos. Os nossos filhos nem sempre se vão comportar bem naqueles dias que gostávamos tanto de os exibir. Nem sempre vão dizer aquelas coisas engraçadas que nos dizem em casa, mas que na rua apenas ficam por dizer enquanto se escondem no nosso peito. Os filhos sentem vergonha, não reagem sempre como previsto, não colaboram todos os dias, não estão dispostos a tudo, não são todos os dias iguais. Os nossos filhos são pessoas, estão a descobrir o mundo, estão a aprender a uma velocidade que jamais poderemos acompanhar. 

Sim, fica ao lado deles, garante que estás presente, que os apoias, que estabeleces os limites. Mas deixa-os ser. Apenas ser. Não é fácil. Mas eles merecem isso… e quando o fizeres, é tão libertador.