Imaginem a vossa vida como uma timelapse. Muitas e muitas e muitas fotografias por minuto. Todas a passar rapidamente à vossa frente. O vosso nascimento. O colo dos pais. A primeira sopa. Os primeiros passos. Muitos risos. As férias. O chapinhar na água. As corridas na neve. Soprar a primeira vela. Depois muitas velas. Os irmãos. Os amigos. O primeiro dia de escola. Muitos primeiros dias. O dente que caiu. O corte de cabelo. As pessoas que chegam. As que partem. A escola. A universidade. O curso. O mestrado. Os namorados. Os beijos. O amor. Muitas mãos dadas. Muitos jantares. Filmes no cinema. Casamento. Amigos. Muitos sorrisos. A gravidez. A espera. A chegada de um filho.
E depois eles nascem e tudo à nossa volta a mudar de forma assustadora. De repente, reparamos com muito mais atenção nas nossas fotografias e vídeos de infância. De repente, damos mais valor a tudo o que os nossos pais passaram. Damos mais valor aos nossos pais. Temos mais saudades. Sentimos mais amor e mais empatia. De repente, sentimos na primeira pessoa, aquele amor indescritível e singular que outrora só ouvíamos falar.
E voltam os primeiros colos que agora damos nós. As lágrimas deles e nossas. Os sorrisos. Aquele ar parvinho que se apodera de nós sempre que eles fazem algo novo. As noites. As dúvidas. Os medos. Muitos medos. Os embalos tardios. O cabelo despenteado. Os passeios. O cheiro deles que nos desnorteia. Os beijos na cabeça que nunca acabam. Os susurros. Os abraços. O cansaço. Os beijos nos pés que crescem todos os dias. Os primeiros passos que não damos, mas amparamos. A vela que sopram ao nosso colo. A primeira vez que ouvimos mamã. O adeus que custa a dizer. Os beijos que queremos que curem tudo. Os desenhos que eles nos fazem. As risadas que enchem a casa e o coração. Os teatros da escola. As músicas. As quedas. A primeira vez que pedalam na bicicleta. Os natais que agora voltam a ser mágicos. A euforia que vivemos através deles. Os carrosséis que extasiam. Os irmãos que chegam. Os beijos lambusados e mãos pequeninas. O amor a crescer. O coração a duplicar. As férias. As corridas. O chapinhar na praia. A primeira vez na neve. O pão que atiramos aos patos. A escola. As fotografias. As conquistas. As birras. O choro. As saídas. As festas longe de nós. Os amores que lhes partem o coração e fazem encolher o nosso. Os medos que eles sentem e que duplicam em nós. O amor deles. O nosso que parece não caber no peito.
E um dia, não muito distante. Seremos os pais que eles relembram com empatia. Serão os nossos filhos a amparar novos passos e a beijar novas mãos pequeninas. Nessa altura, tudo terá passado incrivelmente depressa. Como uma timelaspe. Uma sessão de fotos que jamais nos cansaríamos de ver.
Porque a verdade é esta, poderemos viver milhões de momentos, poderiam ser tiradas milhares de fotografias por segundo, mas no final, tudo passaria à nossa frente em breves minutos, daqueles que nos fariam verter muitas lágrimas de saudades. Vivam a vida como se fosse apenas uma timelapse, em que para aproveitar, temos mesmo que agarrar muito cada segundinho.
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